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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Reconstruir as casas ou a cidadania

Santa Catarina não está abandonada.
O Brasil todo vela por eles, e ajuda tanto quanto o possível.
Mas a melhor ajuda, não é essa emergencial, é aquela de longo prazo, que resolverá - ou ao menos minimizará - os efeitos de catástrofes como esta.
Povo lutador, e orgulhoso de sua capacidade de luta. Esses são os catarinenses.
Vira-latas de sangue original alemão, italiano e português são lutadores e poderão dar um grande exemplo de superação para todo o mundo.
Mas eu sonho que ali poderia surgir algo mais que uma reconstrução de casas.
Não sei se feliz ou infelizmente, muitas casas perderam seus terrenos onde serem reconstruídas, e muitas que aparentemente não perderam o terreno, assim deveriam ser consideradas pelo poder público pelo grau de risco dos mesmos.
A primeira providência seria parar de tratar a coisa pública "com o jeitinho brasileiro" e ser mais rigoroso no combate às irregularidades urbanas.
Que tal pensar em uma reconstrução com "áreas de risco" zeradas?
A expressão "área de risco" subentende o "de vida", sim risco de vida, é isso que quer dizer.
Como pode um homem público omitir-se de suas responsabilidades, sujeitando pessoas ao risco de vida (ou da morte como gostam os mais "muderninhos") de modo deliberado?
Não todos, mas alguns ou muitos dos óbitos de Santa Catarina tiveram origem na irresponsabilidade civil de agentes de governo, civil antes, agora seria criminal se estivéssemos em um país mais sério.

Mas Santa Catarina pode apresentar um novo método de reconstrução, que envolva a complexidade necessária na abordagem do simples morar.

Tudo começa em casa.
Com esse mote poder-se-ia reorganizar os espaços urbanos residenciais, promovendo cidadania, infra-estrutura comunitária e claro casas decentes, bem construídas e baratas.

Em tempos de crise como os atuais, seria também interessante que esses processos gerassem empregos e dessem especialização e renda para os envolvidos.

Construtivamente há várias técnicas possíveis de serem utilizadas, mas não é só isso que deve ser levado em conta.

O modo de realizar as obras são talvez mais importantes que a técnica.
Os projetos de mutirão são aqueles que tendem a melhor organizar a comunidade e o senso de cidadania dos seus moradores.
É também o mais adequado para a personalização das moradias de acordo com as necessidades, desejos e recursos de cada família.

Os projetos urbanísticos devem contar com equipamentos comunitários que aglutinem os moradores em tarefas de interesse comuns, tais como hortas, centro de trabalhos artesanais, creche, quadras esportivas e outros.

Mas o mutirão não pode se basear somente na produção dos interessados, pois aí corre o risco de se alongar demais, desestimulando a participação e comprometendo o processo.
A participação dos interessados tem que ser a necessária e suficiente para desenvolver o senso de cidadania, colaboração e convivência que precisa existir para que uma comunidade se desenvolva sadia, sem ficar subjugada aos interesses de marginais, como freqüentemente se vê em comunidades desenvolvidas sem essas preocupações.

Desde o tempo dos três porquinhos sabemos a importância do tijolo como elemento construtivo que alia resistência, isolamento termo-acústico, facilidade de manuseio e baixo custo.
Os ingleses, pais do tijolo, no pós guerra desenvolveram um tijolo mais produtivo para a reconstrução daquele país. O bloco de concreto.

Perfeitamente adaptado para o Brasil, foi e é muito utilizado, apesar de sofrer preconceitos infundados por parte de nossa população.
É um bom produto para esses processos, mas perde para o chamado tijolo ecológico por vários fatores:
1. Consome muito menos cimento que o bloco de concreto na sua manufatura, e o cimento além de caro consome muita energia para ser produzido. É o insumo nobre nestes produtos.
2. Usando o solo-cimento, só utiliza de areia para certos tipos de solo que, após a analise dosa a necessidade exata desta na mistura para se ter um produto de boa qualidade. Poupar areia é poupar sua fonte, a energia de extração e o transporte para chegar na obra.
3. As instalações para produção são do mesmo porte, até menor, que aquela necessária para produzir blocos de concreto, podendo ser transportada para novos canteiros, ou ainda virar fonte de renda para quem participou do projeto.
4. O método construtivo é mais fácil, seguro, e rápido que utilizando o bloco de concreto, pois são colados e eliminam a argamassa de assentamento, que também consomem cimento e areia.
5. Elimina toda perda de material na construção, não sobra entulho neste tipo de construção.
6. É um método que valoriza a hora-homem dos profissionais envolvidos, pois a produtividade é muito mais alta que nos processos tradicionais.

Com um investimento inferior a 50 mil reais, pode-se produzir cerca de 100 mil tijolos por mês o que daria para fazer 16 casas por mês, ou 192 casas em um ano, com custos bem reduzidos, pois o insumo mais caro que é o cimento é utilizado em baixo teor na mistura, o solo pode ser utilizado do próprio local ou proximidade e dependendo de sua granulometria pode-se até dispensar a adição de areia.

... continua