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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Flagelo de Santa Catarina

Quando estamos no meio de uma catástrofe, não nos damos conta de sua extensão, não há tempo para avaliações reais do ocorrido.
É assim que acontece agora com as dezenas de cidades de Santa Catarina, que a exemplo de São Paulo tem um santo no nome que parece, por vezes muitas, desprezar seus cidadãos, deixá-los à própria sorte.

Mas há um fator que precisa ser levado em conta: a inoperância do poder público na regulação do uso do solo.
Claro que o cataclismo tem origens atmosféricas inusitadas, e o fator natureza tem a maior relevância no desespero dos catarinenses, mas a irresponsabilidade dos homens tem grande dose de culpa.
Os mais graves acidentes se deram em encostas, são barreiras (barro e água, não no sentido obstáculo) que levam casas, interrompem estradas, explodem gasodutos e nas baixadas onde soterram imóveis e pessoas, aniquilando-os.
As barreiras são da natureza, e ao olharmos para a ocupação urbana de nossas cidades conseguimos facilmente encontrar áreas que não deveriam estar ocupadas, e que a Defesa Civil se limita a chamar de área de risco.
Se é de risco, não deveria estar ocupada, mais dia menos dia poderá se tornar mais uma tragédia como a que assistimos hoje.

Alguém aprovou a utilização do solo nestas encostas ou, no mínimo, fez vistas grossas para essa ocupação.

Mas o que me preocupa, não é a falta de respeito ao cidadão deixando-os à própria sorte, quando esse não tem competência técnica para saber o que faz.
As prefeituras são orgãos reguladores que tem por obrigação proteger o uso do seu solo, antes de ser uma propriedade de alguém, o solo é do município, é o poder municipal que pode fazer com que uma terra seja mais ou menos valorizada.
É a prefeitura que acaba definindo, pela sua gestão, o valor dos imóveis em sua área urbana. Quanto melhor a gestão, mais pessoas irão querer viver lá, e maior o valor dos imóveis no seu município.

Mas a ganância, o descaso com os homens, e os interesses individuais acabam preponderando na questão do uso e ocupação do solo.
As chamadas áreas de risco não deveriam estar ocupadas em qualquer cidade, elas são a certeza de mortes, perdas, e tristezas como estas que vemos em Santa Catarina.

Se fosse católico talvez eu rezasse por eles, mas fica difícil quando a própria santa os deixou na mão (mera figura de retórica).
Invés de rezar, prefiro acreditar que as pessoas encarregadas do uso e ocupação do solo de cada uma destas cidades atingidas, no mínimo em consideração aos seus mortos, passarão a ser mais responsáveis com seu trabalho, buscando eliminar essas ocupações em áreas de risco.

Mas há o risco ambiental, que matará a mais longo prazo, mas matará muita gente.
Mas isso é outra história, vamos ao menos salvar as pessoas que estão morrendo ou perdendo o pouco que teem, tanto pela água como pelo fogo (muito comum em favelas).

A ter governos como esses que assistimos hoje, prefiro não te-los. Deixam-nos à própria sorte em tudo o que nos é essencial para a vida, melhor mesmo seria não existissem.

Mas qual é a alternativa?
Acho que ela começa a existir por aqui, mas isso é assunto para depois.

É isso.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A escalada das Bolsas

Tem um ponto de taxi aqui em frente de casa.
Nunca vi como os caras ficam fofocando sobre tudo, nos seus muitos momentos de ociosidade. Não gosto do que vejo, são pessoas que não tendo o que fazer, tem "todo o tempo do mundo" para articular seu corporativismo.

A mesma coisa deve acontecer nos presídios.
O ócio cria oportunidades infinitas, como PCC's e CV's.

Li outro dia que a origem das bolsas se deu nessa mesma trilha.
Lá pelos idos do século XVII ou XVIII se juntavam uns desocupados, com posses, e ficavam trocando participação neste ou naquele negócio.
Trabalhar mesmo que é bom ninguém trabalhava, só comprava e vendia, ganhava e perdia e pronto.
Se aproveitavam do fato dos negócios necessitarem de dinheiro, e tendo-o disponível investiam nos negócios contra papéis e rendimentos baseados no lucro dos mesmos.

É o como o capital podia ajudar a produção e ser ajudado por render lucros oriundos dos negócios.
É uma regra justa, que remunerava o capital através do trabalho que este patrocinava.

Acontece que, nesta roda de bar (que é onde realmente nasceram as bolsas)surgiram os expertos, que mesmo sem ter realizado o lucro, começaram a vender suas ações a outros, recebendo uma parte deste lucro ainda não realizado.

Começa aí uma inversão de valores: a economia fica à mercê do mundo financeiro.

A UE tem um Banco Central que a representa, e que, se fizer o real papel de um BC deveria regular o mercado financeiro de modo a garantir-lhe credibilidade.
Mas parece que isso não aconteceu, a crença suprema no mercado os enganou.

Li ontem que Isaac Newton no século XVIII, após ter perdido 20.000 libras na Bolsa de Londres disse: "Eu consigo calcular o movimento das estrelas, mas não a loucura dos Homens".
Ele já declarava aí a distância que existia entre especulação e realidade.

Nunca gostei de jogos, mais ainda daqueles que se ganha e perde dinheiro ganho com trabalho.
Essa é a bolsa que Newton não conseguia entender.

Essa é a bolsa que ninguém pode entender, a bolsa dos jogadores, não de quem produz.
Se uma empresa chinesa ou indiana ou koreana resolvesse comprar a GM pelo preço de suas ações iria deter um patrimônio incomensurável, tanto no que tange ao seu parque produtivo, mas como, principalmente, no que diz respeito ao seu know-how.
E isso pode acontecer, não está descartado.

O mundo real está à mercê dos jogadores.
Os governos, nada mais fazem que alimentar esse jogo quando alimentam o sistema com um dinheiro que, na maioria das vezes, ainda não existe ou que será recolhido com os impostos dos seus cidadãos (caso eles venham se o jogo der certo).

Nada está mudando enquanto o jogo continuar.
São jogos de cena dos espertinhos do mundo financeiro, aliados com os governos.
Isso não vai levar a nada, não adianta usar o conhecimento sobre o que houve na grande depressão de 29, o quadro é muito mais complexo, e a crise mais profunda.

Acredito que ela mal começou, e que muitas mazelas ainda serão vistas enquanto acreditar-se que a economia se faz com o jogo de capitais.
A economia se faz com o trabalho, seria simples entender, não fosse o mundo atual tão cheio de maus caracteres.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Quanto Ufanismo!

Tive que tomar chá de boldo para me desintoxicar da bobageira que ouvi nos vários jornais de hoje sobre a eleição de Obama nos EUA.

Os repórteres empolgadíssimos falando da eleição do primeiro negro nos EUA, como se isso fosse realmente fazer uma grande diferença. Será?

Na África, ainda hoje, negros massacram negros numa atitude bárbara inimaginável no século XXI, que quer dizer, não é porque é negro que vai ser bonzinho e resolver todas as mazelas do mundo.
Não vai!
Seria pedir demais para o garoto "mais poderoso do mundo".

Ainda bem que esse dito negão americano não passava de mulato se fosse aqui no Brasil. A mãe é branca, e a alma será branca (ops! isso já é racismo de minha parte esqueçam que escrevi).

Tá bom, não quero dizer que o McCain seria melhor, mas também o quanto pior ele seria não podemos mais avaliar.
Claro que torci para o Obama, como a maioria do mundo.
Mas não me engano com a postura norte americana.
Seu egocentrismo não será amainado sem uma forte crise e o provável destronamento dos EUA como "maior economia do mundo".
Afinal, atualmente o que eles tem de maior são suas dívidas, suas incompetências administrativo-financeiras ou, como penso, sua imensa falta de ética em criar uma jogatina financeira baseada em valores irreais da sociedade americana, tais como o valor de seus imóveis, de suas empresas, etc.
Todo o mundo acreditou nas palavras do "mercado americano" e juntos especularam ao máximo, daí veio o estelionato atual. As perdas serão imensas, mas serão perdas para quem vinha ganhando muito e despropositadamente, não é o que me preocupa.

Temos que ter em mente que todos os problemas econômicos estão aí para detonar com qualquer presidente eleito nos EUA (ou outra nação qualquer), caso não se faça uma mudança de paradigma.

Israel ataca seriamente a Palestina no dia da eleição do “querido negão americano” (não é hipocrisia não acho que o Obama tem cara de gente boa mesmo), numa atitude que mostra o desprestígio dos democratas em áreas de atrito internacionais.
O capital judeu nos EUA e a sua indústria armamentista, que alimentam Israel, não querem saber de Paz querem a guerra, pelas mais disparatadas justificativas que escondem os reais interesses que são o lucro, o petróleo e a invasão de território alheio.

O que fará Obama?
Apesar do nome parecido ele não é Ozama, e não pode lançar mão dos métodos deste no trato da política externa americana. O Bush tentou e se deu mal, e não foi porque o nome não era parecido.

Vale a enquete: Quem é mais terrorista o Ozama ou o Bush?

Será que tudo o que o Obama aprendeu na vida, sobre conviver com as diferenças, irá conseguir as mudanças de paradigmas na política externa dos EUA e seus aliados para que saiam desta posição guerreira, absolutamente equivocada nos tempos atuais?

Vamos ver, pois não esqueço que foi um democrata (Lyndon Johnson) que resolveu mandar tropas para o Vietnã em 1965 e foi um republicano (o Nixon) que resolveu sair de fininha de lá com o rabo entre as pernas.

E sobre a economia?
O democrata Clinton administrou junto com o John Major e Toni Blair a idéia lançada por Margaret Tacher do último golpe do primeiro mundo chamado globalização.
Provocaram a privatização de tudo o que foi possível, e propuseram o mercado como o grande agente econômico.
Deu no que deu, o tal mercado mostrou que é feito de crupiês experimentados em enganar a massa de jogadores.
O mercado prefere jogar com o dinheiro (finanças) do que propiciar bases sólidas para o desenvolvimento dos meios produtivos (economia), pois este último dá muito trabalho.

O fortalecimento do mercado exigia a privatização dos serviços prestados pelos estados, pois o mercado era melhor gestos dos negócios. Aqui no Brasil, o FHC se aliou à essa globalização e privatizou telefonia, eletricidade e muito mais.
Financiou muitas empresas estrangeiras com dinheiro do BNDES (que entendo ser do povo) no processo de privatização.
O povo passou a pagar duas, três vezes mais pelos serviços, quem viveu o processo se lembra.
Será que tinha que ser assim? Não acredito, que teve malversação da coisa pública, ah teve.

E agora?
O Secretário do Tesouro do Clinton parece que vai ter papel importante na política econômica do Obama, será que mudará de postura?

O estado americano já começou sua caminhada intervencionista, ajudando bancos para manter a credibilidade em um sistema financeiro que está falido.

Esses altos e baixos que ocorrem nas bolsas mundo afora, são só parte do jogo para alguns saírem com menor prejuízo em detrimento de outros que acabaram perdendo mais e mais.
Jogo é jogo, uns (poucos e espertos) ganham e outros perdem.

O primeiro ministro inglês Brown foi mais inteligente no seu intervencionismo, falando em comprar ações das instituições falidas, para depois de recompostas, poderem vender sem tanto prejuízo.
Só não disse depois de quantos anos, ou décadas.
Qual o tempo necessário para a economia real do mundo crescer 2 a 3 vezes para resgatar o valor desses títulos podres?
Ninguém sabe.
O Bush e seu secretário de tesouro estão tentando copiar a fórmula inglesa (que também se espalhou por outros países europeus).
Será que o Obama vai manter essa postura? Antes, como candidato, apoiava. Temos que ver para crer.

O fato é que o imbróglio em que se meteram as economias do primeiro mundo, guiadas pelo estelionato pós-moderno americano, não permitirá muita margem de manobra.
A mentira foi exposta.

Hoje é o day-after das eleições americanas.
O discurso da vitória do Obama foi muito lúcido, sem ufanismos. Gostei.

Mas pela "vacância presidencial" exercida pelo Bush nos últimos meses, cabe ao Obama as ações práticas para promover mudanças que devem iniciar-se já.
Não dá para esperar o fim do mandato do "guerreiro vencido" Bush.
A crise se acirra cada vez mais, não nos iludamos, e finda a festa das eleições americanas o mundo voltará à triste realidade do esfacelamento econômico.

Um novo equilíbrio mundial deve ser estabelecido rapidamente, e o primeiro mundo deve ter a humildade de reconhecer as possibilidades dos mercados emergentes e dos outros que ainda estão submersos no abandono a que foram submetidos.

Não adianta o FMI ficar pressionando para que os emergentes ajudem a economia do primeiro mundo, com uma risível proposta de empréstimo a fundo perdido, pois eles tem que resolver suas próprias crises, estimulando seus mercados internos para suprir a falta que fará os mercados de primeiro mundo, que acabarão por ter que se contentar com um novo modo de vida.
Isto poderá garantir um mínimo de estabilidade e crescimento de suas economias ajudando, aí sim, resto do mundo.
Afinal o capital produtivo do primeiro mundo está entranhado em todas as economias emergentes e delas poderá auferir o lucro que não conseguirá nos seus países de origem, enquanto esses procuram se reorganizar nestes novos paradigmas. Mas o ganho é de um investimento produtivo, não de uma jogatina especulativa.

O fato é que a ciranda financeira (lembram do termo usado a tempos atrás aqui no Brasil) mundial deverá terminar, pois caso contrário o descalabro financeiro atual irá causar um colapso econômico irreparável, e a curto prazo.
Isto já está acontecendo quando vemos indústrias no mundo todo fechando as portas de muitas fábricas ou quando vemos cidadãos americanos acampados ou morando em automóveis por terem vergonha de declarar aos seus familiares a falência pessoal, ao pedir ajuda.

A exploração exacerbada que os países desenvolvidos fizeram ao longo dos últimos séculos contra os pobres do mundo têm que acabar, não está dando certo, quer seja pela invasão de emigrantes terceiromundistas procurando melhores oportunidades de vista, seja pelos conflitos infindáveis para manter territórios alheios sob controle.

Não tem jeito, vamos encarar a realidade de que não haverá milagres.
Temos que continuar conquistando espaços e direitos.