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domingo, 4 de agosto de 2013

Drogas e Crimes

Hoje na Folha de São Paulo Clovis Rossi publica coluna onde mostra que vê com bons olhos o que o Uruguai está tentando fazer liberando a maconha. Já o Ferreira Goular, nesta mesma FSP se mostra contrário à essa liberação das drogas, e defende uma forte ação de conscientização da juventude quanto ao malefício das drogas.
Recorri novamente ao Admirável Mundo Novo de Huxley, onde a sociedade havia desenvolvido uma droga lícita e distribuída/controlada pelo estado.
Lendo um pouco sobre esse último autor, soube que o mesmo tem forte formação acadêmica em ciências humanas e fiquei até pensando que ele talvez tenha escrito esse livro como uma tese insustentável no meio acadêmico e só possível no universo da ficção.
De qualquer modo acho que o livro é mais que uma ficção, é uma premonição do que iria ocorrer num futuro do qual hoje somos contemporâneos.
Balmann fala do mundo líquido, onde as relações são frágeis e efêmeras. Isso já estava descrito no livro citado.
Mas voltando à questão das drogas, a tal do livro o Soma, era um reconhecimento social da necessidade de ter nas drogas uma válvula de escape. Para que os usuários não se "viciassem" ela era elaborada de modo a não promover dependência química. Mas o uso continuado era permitido, desde que controlado pelo estado para ficar dentro dos parâmetros "normais".
Mas uma pária daquela sociedade se recusava à se ater aos níveis normais, assim como não aceitava muitas das regras impostas por aquele modelo de estado. Marginalizada, mostra talvez esse lado lúgubre do ser humano, lúgubre porém numa atitude libertária e aí entra a questão.
Porque o ser humano se droga?
Fiquei me perguntando porque nós humanos precisamos sair do plano da normalidade e usando drogas flutuar num universo mais leve, menos restritivo, mais libertino, mais livre?
Essa é a questão central.
O que, na nossa vida a torna tão maçante que precisamos vez ou outra, ou sempre, deixá-la de lado e perder o senso de realidade.
Programas eficazes de conscientização da juventude, promovidos por igrejas por exemplo, trazem o "rebanho" controlado com rédeas curtas, mas será que se houvesse mais liberdade de pensamento para esses jovens religiosos, se fosse a cultura e não o dogma religioso que o guiasse ele continuaria se sentindo feliz?
Condenação Social
É visível pelo noticiário que as classes de renda mais baixa geram maior número de vítimas das drogas. Há toda uma conjuntura muito mais propícia para cooptar esses jovens ao vício, que passa pelo abandono nem sempre voluntário dos pais que precisam sustentar a casa, por um sistema de educação que foi largado às traças e está levando o país a uma situação de regressão social pois não conseguimos nem formar mão de obra especializada para os desafios do novo mundo, por um sistema de segurança que nos põe inseguro quando vemos que policiais acabam por ser cooptado ao mundo do crime para com este serem permissíveis, e por um estado politicamente formado não pelo melhor da sociedade mas, salvo exceções, pela pior escoria dela.
Vivemos numa sociedade que condena à morte jovens pobres estudantes de escolas públicas e moradores em regiões controladas pelo tráfico e não pelo estado. Matamos mais que as guerras e revoluções em andamento no planeta. E viramos a cara para poder dizer que "não vemos nem ouvimos nada".
Classes mais abastadas podem ser melhor informadas e/ou sustentadas para que o vício das drogas não ponha cidadãos na mira de um revolver. Sabemos que também consomem drogas mas trafegam na sociedade incólumes.
Tem saída para nós?
Tem razão então Ferreira Goulart quando fala que só a conscientização dos jovens quando aos malefícios das drogas pode diminuir a clientela e assim o consumo.
Mas acho que também tem razão os políticos uruguaios que estão tentando uma mudança de paradigma. Talvez haja um meio termo, onde não se jogue o jovem viciado em escolas de crime que são nossas instituições penais e que se pense em gastar com sua recuperação e não com sua manutenção apartado.
Talvez a descriminalização permitisse esse meio termo aliado, sempre, e de volta, com o tema educação seria a saída para mudar esse estado de coisas.
A questão seria resolvida?
Mas mesmo supondo que pudéssemos mudar esse quadro, ainda ficaria a questão central, do porque o ser humano busca a droga.
Essa questão é muito mais profunda, diz respeito talvez à nossa própria incapacidade de ter uma vida sociocultural que realize nossa índole gregária e estimule valores positivos e não como hoje, onde o individualismo nos torna cidadão solitários num mundo abarrotado de gente.
As igrejas como já disse acabam fazendo isso com certo êxito, mas pecam por deixar seus seguidores, inebriados de outra forma, acreditando num mundo baseado em dogmas que na pratica do dia a dia acabam não explicando nossas ações. É, por assim dizer, outro tipo de droga usado.