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domingo, 27 de julho de 2014

Oferta e Procura X Selic

Um amigo comentou que não fiz menção, em posts anteriores, à questão do equilíbrio de oferta e procura na inflação.
É verdade, é um fator fundamental na formação de qualquer preço.

Mas vejamos o que os economistas dizem: aumentando a taxa Selic agente contém o crédito e a demanda (nome mais muderninho pra velha procura) cai e com ela caem os preços.
Me parece uma burrice das maiores.
Se os juros caem, o credito não cai só para os consumidores de produtos, mas também para os produtores que para pagar juros mais altos tem que aumentar seus preços.
Como já postei, falta imaginação aos economistas, ou é má fé mesmo de quem só se preocupa com o capital.
Qualquer equação que resultar de um modelo socioeconômico tem que levar em conta uma complexidade maior do que a lógica primária do "se-então", ou seja SE aumenta Selic ENTÃO sufoca o crédito...etc.
Está claro que isso não dá certo, só atende aos interesses especulativos, ou seja de quem quer ganhar dinheiro só por tê-lo sem esforço.

O BC do Brasil que trabalha com "faca de dois legumes" como dizia o guru desses economistas, o Vicente Mateus.
Explico: aumenta a Selic para arrochar o crédito e ao mesmo tempo aumenta o volume de dinheiro disponível para empréstimos nos bancos (com a diminuição do compulsório).
E nossos banqueiros, que estão mais para agiotas que homens de negócio, são espertos como o mais Gerson dos Gersons e pegarão esse dinheiro e aplicar onde? Na Selic, quem duvida?
Investimento certo e seguro.
Nada acontecerá quanto à oferta de crédito.
Um crédito que priorize produção, não consumo.

Nossa equipe econômica dos 3 governos são de ingenuidade, para não dizer burrice mesmo, foram as que mais lucro deram aos bancos em toda nossa história.

De novo o tema é o caráter e de visão de nação, coisa que absolutamente não temos no Brasil.
Inteligência à parte, pois a serviço de canalhices só piora as coisas, vira mera e triste esperteza!

Oferta e Procura X Gestão de Preços

Para não fazer um post muito grande, que acaba enchendo o saco do leitor, separei a questão de gestão de preços neste.

A demanda é algo mais que previsível, e pode até certo ponto ser controlada pela disponibilidade de crédito, quantos os tolos que aproveitaram para comprar carros novos e acabaram perdendo-os para as financeiras que não nos contam o tamanho do rombo para não criar alarde.
Se a alternativa é equilibrar o prato da oferta precisamos analisar o que ocorre com elas.
Separemos a oferta em grupos de produtos.
  1. Ofertas sazonais: são na grande maioria alimentos tipo horti-fruti. Considerando longos períodos pesam relativamente pouco na cesta básica, e no crescimento da inflação. Aumentam numa época e diminuem em outra. O comprador já sabe e equilibra a demanda quando não é "época" de tal e qual produto.
  2. Ofertas planejadas: são produtos que requerem planejamento de produção, estímulos de crédito e normalmente logística mais complexa. Também aqui são os produtos alimentícios como por exemplo carnes e grãos os preponderantes, mas entram em cena  também produtos como o alcool e a gasolina, energia elétrica, água e transportes urbanos e rodoviários. Sem planejamento, crédito para investimento com exigência de contrapartidas de resultados, não vamos sair do que temos hoje.
  3. Super Ofertas: a falsa promessa do Lula, para as automobilísticas no Brasil, de criar um grande mercado consumidor levou-as a investimentos em um mercado que se mostra novamente aquele de sempre, com risco de decair mais ainda, a. linha branca eletroeletrônicos são outros. Esses produtos não tem realmente problemas de aumentar a produção, mas sim de analisar as expectativas dos consumidores para saber o quanto produzir. Tendem dia a dia cair de preços. São os mais fáceis de estimular, não foi à toa que Lula lançou crédito e benesses fiscais para sair do buraco em 2009.
  4. Ofertas Desviadas: por aqui volta e meia o frango tá barato, depois explode de preço. É que o mercado internacional oscilando, faz nosso bolso sentir. O mesmo acontece com carne de vários outros produtos que tem mercado internacional. Sinto muito mundo, mas o Brasil tem que ter estabilidade. A política para controlar esse fator  é razoavelmente simples, o excedente pode ser exportado, o que é fundamental para a nação tem que ser vendido aqui. Nisso o preço é o melhor fiel da balança e uma política protecionista, sim protecionista mesmo, tem que ser aplicada de modo a praticamente coibir exportações de produtos que apresentem alta.
Novamente aqui precisamos de um pouco de inteligência para tratar de cada classe de produtos, mas não é nada impossível, falta mesmo é vontade de fazer.
Dá trabalho, cria conflitos.
Para que?
Estamos ganhando o nosso, dane-se o mundo!

E o exército do Marcola continua crescendo, e sua ação mata ano a ano mais dos pobres, mas também mais dos ricos, e uma hora os pobres vão entender que não têm vantagem em se matar por pouco, melhor matar os ricos por muito.
É isso o que estamos criando por aqui, uma guerra civil que já mata mais de 50 mil brasileiros por ano.
Isso já não é guerra?

sábado, 26 de julho de 2014

Capitalismo líquido

Zygmunt Bauman escreve sobre o mundo líquido, sua definição para a contemporaneidade.
Se Max estivesse vivo, talvez escrevesse sobre o capitalismo líquido nesses tempos do mercado.
.
Como não sou economista, mas um reles operário, não faço teses, só expresso uma opinião.
Mas uso lógica ao descrever essa nova forma de imperialismo, poderíamos chamar de imperialismo volátil, mais etéreo que o líquido, gasoso.

Ao contrário do que propõe os economistas muito mais sábios que eu, penso que a Selic não tem todo o  poder de reduzir a inflação haja vista a conjuntura atual.
Estagflação é um paradoxo.

Se a Selic sobe mas não reduz a inflação, talvez o paradigma seja outro.
Manter a Selic, quer dizer o valor dos juros pagos para reciclar nossa dívida, representa aumentar os gastos com a dívida e com isso manter a mão pesada nos impostos para poder pagá-los.
Selic alta é sinonimo de transferência  de impostos pagos pelo povo, para os capitais que lucram e beneficiam os ricos aqueles que aplicam no mercado.

Essa é a forma pós-moderna de imperialismo, não de nações, mas do capital.
Funciona assim:
  1. aumenta a Selic e paga juros mais altos para o capital aplicado no mercado,
  2. pressiona os impostos, já insuportáveis, para fazer caixa,
  3. a nação gasta grande parte do que arrecada pagando então esses juros que vão remunerar o capital especulativo das bolsas para dar boa vida aos investidores,
  4. não sobra dinheiro para o custeio e investimentos em infraestrutura, saúde, educação, cultura e lazer,
  5. os serviços que realmente melhorariam nosso IDH, não em alguns pontinhos mas num salto que nos posicionasse ao menos entre os primeiros 20 do ranking, não são oferecidos ao nosso povo, e por fim,
  6. nossa miséria acaba pagando a boa vida dos povos investidores.
Sei que não tenho autoridade para falar em economia, mas infelizmente ainda tenho tempo e vontade para pensar.
Pensem, retruquem e deem sua opinião.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

E se o Brasil Criasse Vergonha

Escrevi no post anterior sobre nossa "deseconomia".

Não apontei saídas para um estado que é desarranjado há séculos pois nosso povo é o que é.
Mas se houvesse, em nossa vida pública, gente com um mínimo de bom senso um processo poderia ser disparado para colocar a casa em menos desordem em algumas décadas.

Inflação é dinheiro valendo menos, está claro.
Porque o dinheiro pode valer menos para adquirir produtos?
Como é composto o preço destes?
1. Custo Direto
Temos deficiências na qualificação de nossa mão de obra, mas a formação não é uma panaceia.
A grande maioria dos equipamentos utilizados em produção precisam de um treinamento específico para utilizá-lo e isso todo operário sabe.
Muitos, mesmo que o funcionário não tenha tido uma formação de qualidade como oferece o sistema S, ainda assim poderá ter bom desempenho com cursos pontuais que o capacitariam a operar.
Se houver interesse real do meio produtivo, a capacitação virá, e a produtividade será aumentada e se a empresa tiver bom senso social, o salário aumentará gradativamente.
Melhor produtividade implica em menores preços e melhor qualidade, melhorando nossa competitividade.
Por mais de sete anos cuidei dos sistemas de TI da engenharia e produção de uma grande indústria de base. Sou testemunha de operários bem intencionados que visavam qualidade e produtividade. Acredito que seja meta possível.
Redução de custos operacionais indiretos como burocracia só dependem de um estado mais racional.
2. Lucros dos agentes
Quando o meio onde se vive é perdulário como o nosso, onde "todo mundo mete a mão quanto pode" é de se esperar que os lucros embutidos nos nossos produtos e serviços seja um tanto maior que o praticado no resto do mundo.
Mas a produtividade acaba necessitando de novos mercados, e aí a competição é internacional e nesse sentido teremos que passar a praticar lucros compatíveis com o resto do mundo.
Nossa indústria automobilística que tem suas exportações reduzidas para a Argentina não tem qualidade nem competitividade para exportar para outros mercados. Terá vergonha na cara e encarará os desafios ou vão deixar enterrados os investimentos feitos com base em um falso mercado emergente que o Lula lhes vendeu?
3. Transportes e Logística
Fiz engenharia civil na década de 70, e na cadeira de transportes aprendemos que seriamos um país com transportes muito baratos devido à nossa rede hídrica e potencial ferroviário.
Não temos investimento em navegabilidade em nossos rios, ou a natureza os fez assim, ou ficamos a ver navios...só no mar quero dizer.
As ferrovias foram praticamente abandonadas, pois o interesse das automobilísticas em vender caminhões faz forte lobby para que esse modal prepondere.
Mas a falta de investimento em estradas razoáveis, fora o fato destas custarem aqui 2 ou 3 vezes mais que em países decentes, tornam nossas rodovias verdadeiras máquinas de matar.
50 mil mortos por ano é brincadeira?
136 mortos por dia. Gaza é fichinha, precisaram 15 dias para matar 700 isso dá uma média diária de 47 mortos, fazemos 3 vezes esse morticínio aqui fácil fácil.
4. Impostos e Contrapartidas
O imposto que recolhemos nos produtos, por ser elevado, eleva o custo de vida de todos indiscriminadamente.
Não tendo serviços públicos de qualidade mínima temos que arcar com saúde, educação e outros serviços pagos tornando nossa vida mais cara ou viveremos com menos qualidade tornando-nos mais e mais atrasados em relação ao restante do mundo, e nos casos extremos somos levados à bandidagem, que não é culpa do jovem que se tornou criminoso, mas da própria sociedade que engrossa as fileiras do exército do Marcola.

Parece que tudo rema contra nosso país.

Um Novo Estado
Há muito se fala em reformas políticas, fiscais e administrativas, mas ninguém tem coragem de promovê-las.
Mas o bom senso mostra que a continuar como estamos entraremos em colapso, para não dizer que já estamos inoperantes.
Nossa guerra civil não tem bases política.
Um estado enxuto, parlamentos só com parlamentares e assessorias básicas comuns a todos para apoio legislativo, estruturas sem mordomias tantas.
Uma justiça que honre a ética e construa-se com letras maiúsculas.
E uma estrutura administrativa competente, voltada ao real atendimento do povo e das necessidades da nação.
Isso, numa terra com os homens como os nossos é algo impensável acredito.
Ficará para o "day-after" mesmo.

Deseconomia Brasileira

Estudo em Modelos - Fundamentos
Quando na faculdade de engenharia, nas primeiras aulas de mecânica dos fluídos o professor mostrando teorias pra lá de escabrosas chega a uma equação muito complexa que se bem me lembro tinha integral quádrupla ou quíntupla.
Era uma cadeira que quase todo mundo tomava pau, pensei seriamente em abandonar a disciplina pois pau por pau, preferia ser com menos esforço.
Mas eis que surge a saída honrosa para aquelas equações incalculáveis: ensaios em modelos.
Ao contrário das teorias sobre eletricidade e magnetismo onde álgebra ajuda em novas descobertas, o estudo dos fluídos não conseguem muito êxito só com as equações.
Não é à toa que os supercomputadores voltam-se à aplicações meteorológicas, que no fundo estudam equações baseadas em estudos de modelos e não em teorias puras.
Mas o que tem a ver essa minha história com economia?
É que, não entendendo nada de teorias econômicas, tenho certeza que o grau de complexidade de uma conjuntura econômica está mais para o estudo dos fluídos que da eletricidade.
Por isso lá na vizinha escola de economia parece que se estuda pouca matemática em relação ao que temos que nos dedicar na engenharia.
Penso nas teorias economias como um sistema que tem lá suas equações, complexas mas tem.
Nos estudos de modelos aprendemos a ver efeitos e parametrizar as causas, que se muito complexas, vão sendo ensaiadas mudando-se parâmetros para poder nos aproximar do resultado que o modelo apresenta.
Esse raciocínio me leva a questionar certas bases tidas como seguras.
Primeiro, o modelo é nossa desgraçada economia e seu reflexo na baixa qualidade de vida de nosso povo.
Sei que o aperta daqui, solta dali e tantas tentativas de alterar os parâmetros não tem dado muito resultado, e muitos bytes são gastos com comentários que julgo absolutamente cabíveis mas que, sinto muito senhores economistas, abordam parâmetros de segunda grandeza, firulas que na prática não tem resolvido nada na economia brasileira.
Nosso capitalismo aqui não é como o do primeiro mundo, que também está fracassando por outros motivos.
Li matéria de um gestor de investimentos voltados ao Brasil do J.P.Morgam, que diz que estamos sendo rebaixados como alvo de aplicações, em relação aos demais membros do BRICS.
Eles, para emergir, crescem, e razoavelmente.
Nós não, estamos parados. e na iminência de andar para trás, pois crescimento abaixo de 1% é decrescimento pois o demográfico é levemente superior  a isso.
É interessante então olharmos alguns de nossos parâmetros e compará-los com outros países.
Taxa de Juros
Nossa taxa de juros, pagos pelo dinheiro que o Estado toma como empréstimo no mercado de capitais, é o maior do mundo há décadas.
O resultado disso é que gastamos a maior parte dos impostos arrecadados pagando as viúvas e os lobos maus que aplicam no mercado de capitais.
Sobra pouco para retornar como serviços públicos e por isso temos esse estado de calamidade normalmente maquiado pelo governo A ou pelo B.
As instituições financeiras preferem ser remuneradas a 12% ao ano aplicando em títulos garantidos pelo governo à emprestar para o sistema produtivo ou de serviços, é claro risco zero!
Só que essa mania de Gerson que temos como povo sem caráter, nos está levando ao colapso social.
Esse que querem lucro fácil estão tendo que viver numa jaula, com medo diuturno pela violência que graça solta no país, onde os bandidos usam as cadeias como quartéis generais de onde partem ordens para um exército de bandidos que não veem alternativas de vida.
Quer dizer, se rico ou remediado no Brasil é uma merda também, desculpem a malapalavra, mas há expressões insubstituíveis.
Impostos
Olhando os preços de nossos produtos vemos que parte significativa deles é formada por impostos, o pior modo de recolhimento, pois não é seletivo conforme as classes sociais.
Todos pagam igualmente ricos e pobres. É muito para o pobre e insignificante para os ricos.
Já impostos sobre propriedade, renda, fortunas e outros que se sejam proporcionais à riqueza das pessoas e das empresas, esses tem sua participação minimizada, pois novamente os detentores do capital compram descaradamente uma classe política corrupta por conta de um sistema político-eleitoral do tempo dos coronéis, pior, da Corte.
Novamente esses que só pensam em si , desprezando a coisa pública, o senso de nação, estão acuados em suas jaulas e carros blindados com medo da sociedade que eles, e principalmente eles, acabam criando.
Política x Economia
Com o sistema político que temos, onde os que querem se eleger vendem suas almas aos poderosos, e passam a trabalhar como fantoches destes dentro do Estado.
Vemos essa promiscuidade que todos chamam de escândalos mas que é consequência lógica do sistema.
Vamos aí agregando mais uma classe de Gersons na nossa lista de maus caracteres.
Esses últimos, vendo a vida nababesca dos poderosos, não deixam por menos e tentam se locupletar em sua vida pública, com benesses que o Brasil não suporta.
Como dizia o ex Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen "o Estado Brasileiro não cabe em nossa economia".
Em todas as esferas vemos uma grande maioria de gente de caráter duvidoso, para dizer pouco, se arrumar num cargo eletivo, ou ao menos numa nomeação em um destes descabidos gabinetes que se espalham em toda esfera e espaço legislativo.
Administração Pública
Novamente aqui graça solta a ineficiência e o mau caráter do nosso povo, que lotam os concursos públicos para arranjar uma cadeira onde pendurar o paletó e aguardar o contracheque mensal, com o menor esforço possível.
A incompetência da gestão pública torna nossa vida um terror.
É novamente fruto de um Estado desorganizado, onde nomeações políticas se sobrepõe à carreiras baseadas em méritos, ascensão concursada e direitos decisórios respeitados.
Ou seja custa-nos caro um serviço burocrático e ineficiente, um desserviço na verdade.
Há um custo embutido nos produtos, já mensurado de mais de 3%, que as empresas gastam internamente para poder atender a burocracia, que aqui deveria ter 2 erres.
Mau Caráter a Causa Única
Apesar de Darcy Ribeiro ter dado tom otimista ao povo brasileiro, esse nosso povo moreno,  acredito mesmo é que atualmente o que prepondera no poder são pessoas de péssimo caráter, que não querem largar as tetas da Viúva como diz Elio Gaspari.
Quanto mais o cidadão está distante do poder, mais apático ele é, ficando à mercê desta grande quadrilha que administra o Brasil desde a Corte, sem mudar praticamente nada a não ser a maquiagem e o tamanho do estado.
Esperança?
Não há esperança para uma má formação do caráter de um povo.
Talvez o nosso pouco sofrimento com desastres naturais, ou com guerras, nos tenha feito uns acomodados, que procuram se virar cada um pra si e Deus pra todos.
Talvez esteja certo o Marcola, grande líder da outra quadrilha que assombra nossa vida, "já que é o cada um pra si, tomemos as coisas na mão grande, roubo é tudo igual. Tanto o deles de colarinho branco, como o nosso de tresoitão".
Saída? Só o porto por onde vieram meus ancestrais, ou a morte que ao menos um dia virá.

sábado, 5 de julho de 2014

Ginásios X Arenas - Isso é futebol?

Entendi agora pq a FIFA passou a chamar estádios de arenas!
Tá certo, desde sempre é nelas que colocamos homens combatendo animais ou vice-versa sei lá.

Parei de acompanhar futebol faz muito tempo.
Para quem é velho como eu e assistiu jogos desde a Copa de 58 (ainda ouvida nos rádios, e mostrada em pequenos trechos em documentários nos cinemas), e seguiu acompanhando futebol até a de 70 a desilusão com o esporte tem seus motivos.

O primeiro é a violência não penalizável que se institucionalizou no que passaram a chamar de "futebol força" contra aquele tido como antigo que apelidaram muito acertadamente de "futebol arte".
Futebol de resultados, feito para ganhar partidas, e depois apropriado por grandes interesses financeiros.

Para garantir resultados positivos os europeus resolveram converter o nosso maravilhoso futebol latino americano o tal "arte" num jogo truculento, de trancos, camas-de-gato  e agarra - agarra que o "futebol força" criou.
Tornou jogadores leves e ágeis em truculentas massas de músculos. Roubaram-lhes a agilidade, a arte e os encheram de dinheiro, músculos e violência.

E a turba enlouquecida, querendo mais é ver violência, achando tudo lindo, pagando cada vez mais caro para ir aos estádios, ops arenas, para ver a luta, ops jogos!

E como o mote passou a ser violência, essa também se instalou nas arquibancadas mundo afora, e que tem sido difícil de combater, ainda mais quando ela extrapola as arenas e vai para as ruas mesmo.


E os árbitros das partidas passaram a chamar de "jogo de corpo" um embate típico de animais irracionais travestidos de uniformes de times ou nações. Ao que me lembro jogo de corpo era um tipo de totózinho que se dava ombro a ombro quando se estava correndo paralelamente com o adversário, não o encontro entre chifres que vemos hoje nos estádios.

Como a humanidade continua tosca como nos tempos da Roma antiga, nas arenas colocamos toda a violência que queremos ver

Os gananciosos, vendo aí um filão para se ganhar dinheiro, se apropriaram do negócio e sabem, cada vez mais, que o que vende é a violência.
Jornalistas falaram muitas vezes mais de uma mordida do que do gol maravilhoso que assisti no jogo da Holanda, um grande e ousado mergulho para fazer de cabeça.
Falam mais da vértebra do garoto-propaganda NeymarJr do que do fato dele não ter feito lá muita diferença quando o time se organizou como uma equipe de jogo e  não num ajuntamento de ditos craques que não conseguem um bom drible, digno de se aplaudir.

Eu sei que também havia certa violência no futebol arte, mas era punida quando o árbitro a via, mas muitas vezes passava despercebida. Pelé que o diga, era perito nisso.
Mas ao invés de evoluir e usar as possibilidades do tira teima, que hoje está on line nos telões dos estádios, para dirimir dúvidas de apoiar a arbitragem, o que se faz é aceitar a violência e fim.
As reclamações contra a má arbitragem e os xingamentos à suas progenitoras é parte do estímulo, da violência.

Lendo matéria do Cony, na Folha de São Paulo, constatei que o que eu realmente quero é um novo futebol, o que ele bem descreve no artigo.
Se um esbarrar no outro é falta, não pode!
Lide com a bola com destreza para se livrar da defesa, sem tocar nem ser tocado por ninguém.
Um jogo que provavelmente seria cheio de gols que é, em última instância, o que se deveria querer ver.

Todos os tais craques de hoje começam craques mesmo,  criados muito mais no futebol arte das peladas de bairro que acabam conseguindo entrar nos clubes. Lembro bem de cada um deles que quando humilde ainda jogavam com gosto um futebol bonito de se ver, e que logo que foram cooptados pelo dinheiro europeu perderam a graça viram os gladiadores das arenas atuais. Enumerar aqui daria uma lista enorme.

Que violência gera violência todos sabem, pois creio que arte gera mais arte, mais sensibilidade aos espectadores, mais destreza aos jogadores e boa educação a todos os que participam.

A vaia à presidente é direito do povo, e mesmo que ela merecesse o que aconteceu na estreia da Copa, a boa educação rege que se vaiasse sem xingamentos ouvidos por bilhões de espectadores. Ainda bem que na França entenderam que o povo queria que ela fosse enforcada pelo pescoço.

Um outro motivo que me fez afastar do futebol foi a espetacularização que a mídia e o dinheiro implementou.
Para quem ouviu locutores de rádio, pessoas inteligentíssimas, descrevendo o que estava acontecendo no campo para quem não pudesse lá estar, e depois tem que se deparar com uma gralha como o Galvão gritando e esperneando, consultando um papagaio que ele chama de Arnaldo, é de matar.
Não fosse o comentário de um ou outro jogador convidado para o alpiste da gralha, e que às vezes ela consulta (e muitas delas interrompe) o ideal seria desligar o som, ficar só com a imagem.

Quem já foi a um estádio e assistiu um bom jogo sabe como é prazeroso.
Toda a tarde ficava animada, nosso time ganhando ou perdendo, sempre voltávamos mais felizes para casa.
Discutíamos os lances, como se faz hoje, mas os comentários eram sobre um drible do Garrincha, ou do Canhoteiro que morava perto da minha casa, num sobrado simples como o nosso. Não sobre mordidas, trancos, pernas colunas e costelas quebradas.

Esse é o espetáculo verdadeiro, vê-lo na tv não tem a mesma graça, mas se é o que pode ser feito, ok vamos de tv mesmo, mas daí até chegarmos ao ponto da tv mandar no espetáculo não dá pra concordar. Os jogos durante a semana ficaram condicionados ao fim da maldita novela das 8 que só começa 9:30 e com isso o jogo começa sei lá a que horas. Quem fica para assistir acorda no dia seguinte meio mal humorado, mesmo que seu time tenha ganhado.
Mas como o dinheiro manda, e a tv doutrina a turba ignóbil chegamos ao estado atual.

E há ainda um terceiro motivo para me afastar do futebol, a corrupção endêmica do meio.
Se a corrupção, para mim, deveria ser considerada crime hediondo, com pena perpétua, não posso entender essa sujeirada que se instalou nos bastidores do futebol. Alguém pode me explicar que fim tomou o caso da venda do Neymar para sei lá que time tenha ido? Li que o presidente do tal clube foi afastado, parece que o problema foi uma pequena diferença de milhões que não passaram pelo fisco, de lá e de cá. Mas pelo espetáculo vale tudo, abafar os casos é o que a própria imprensa acaba fazendo.O Felipão também tá lá enroscado com impostos não pagos.
Virou um ambiente de abutres, raposas e espertalhões, pobre Gerson que se achava, hoje seria considerado um ingênuo.
Não assusta a promiscuidade entre o futebol e a política, os atores em ambos os casos são farinha do mesmo saco. Raras são as exceções!

Dizer não ao futebol, para mim, é então tentar me manifestar também contra a corrupção.
Sei que a minha não audiência não faz diferença, mas se essa conduta se espalhar poderá fazer.

Talvez voltando nossos olhos para as peladas dos "campãozinhos (*)" da periferia fiquemos mais satisfeitos com o jogo jogado.

Mas Copa é Copa, assisto os jogos do Brasil e serve para me atualizar de como anda o tal esporte bretão que perdeu a elegância inglesa e se tornou mais um embate de gladiadores romanos.
Espero que os feridos todos se recuperem, afinal o show deve continuar, infelizmente.


(*) Campãozinho é uma doce lembrança da minha infância. Explico: por vezes minha mãe ficava brava porque eu atrasava para voltar para casa e ela dizia que até tinha ido ao campo onde jogávamos futebol (eu era muito ruim na brincadeira, beque de 20 kg quase caia com o impacto da bola). Daí eu perguntava que campo, e ela apontava um pequeno que tinha no meio de um quarteirão. e eu então falava que não era lá que eu estava que eu estava no "campãozinho", um maior com um pouco de mato que servia de grama, que ficava onde hoje tem a Av. Berrini. Campão não era, porque ainda era pequeno, daí ficou o apelido.