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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Deus existe?

Hoje uma matéria da FSP  no Blog Mensageiro Sideral de Salvador Nogueira cita que "E a estimativa mais conservadora que os pesquisadores conseguiram fazer sugere a existência de aproximadamente 2 x 10^18 potenciais Terras. Você tem ideia de quanto é isso? É o número 2 seguido por 18 zeros. Faço questão de escrever por extenso: 2.000.000.000.000.000.000. Ou, de um jeito que possamos ler em voz alta, 2 bilhões de bilhões de planetas habitáveis."
Na matéria também se comenta que a maioria desses bilhões de bilhões de planetas têm, imaginem, o dobro da idade da Terra.
O que isso quer dizer?
Penso que a probabilidade de existir vida, vida inteligente, e provavelmente muito mais evoluída que a nossa é enorme também.
Simples assim.
Falei em probabilidade, que é estudo antigo de uma ciência chamada matemática, se alguém não sabia.
Eu mesmo sempre duvidei da probabilidade em seu estado, por assim dizer, puro.
Sempre achei que os modelos seriam mais complexos e portanto por vezes as estatísticas se enganariam, como pesquisas por vezes se enganam não é?
Mas os enganos são provenientes de erros na modelagem dos dados, por vezes essa modelagem é muito complexa, ou ainda muito custosa.
Mas falando em uma estimativa conservadora que afirma que podem existir 2 bilhões de bilhões de planetas semelhantes ao nosso não há erro de modelo que sugira que somos só nós terrestres e um Deus a cuidar de nós.
A vida é algo mais complexo do que essa relação simplória das religiões que hoje imperam por aí.
Falo de religiões que podemos chamar de sérias, não de todas essas outras charlatãs que se multiplicam mais que o aedes aegypti.
Então, afirmo que simplificar tudo e reduzir o universo ao que pretendem esses vendedores de paz de espírito das igrejas é coisa para gente com intelecto prejudicado, para não usar termos mais chulos.
Ah! e Deus?
Se existir acho que seria um deus de todas as possíveis raças que habitem o universo,  não acham? Caso contrário seria um deusinho muito chinfrim.
E cáspite se existe e tem bilhões de casas para cuidar, vamos deixar ele em paz e vamos cuidar da nossa Terra que é tão linda e anda muito maltratada por nós.

Complexidade

Não penso entretanto que essa vida que temos aqui seja fruto de um único ciclo e fim.
Vejo tantas diferenças entre as pessoas que não consigo acreditar que as tenhamos tão díspares tendo nascido, todos, com as mesmas condições.
Gêmeos univitelinos podem ter diferenças brutais, apesar de vidas paralelas, eu já vi muitos casos assim.
Isso me sugere que haja um grau de complexidade na vida que vai além da animação de um corpo por uma energia que simplesmente se esvaia com a morte.
Acredito que há uma brecha para pensarmos em algo mais complexo, uma espiritualidade que vá além do ciclo da vida material.
Mas não posso afirmar, pois agnóstico que me sinto, não tenho informação suficiente para afirmar ou negar algo.
Sei que, muitas vezes, sinto haver algo a mais, um sentimento de pertencimento a algo que não tenho aqui como descrever.
De qualquer modo, após minha morte, saberei.
Ou não...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Bakunin pero no mucho!

Dos Impérios ao Estado-Capital

Por vezes me intitulo um anarquista bakuniano.
Não que eu concorde com movimentos ocorridos a um século e meio atrás ou mais. São, é  claro, ultrapassados e cabiam como soluções no contexto que ocorreram.
As ações revolucionarias foram fator fundamental para a derrubada de muitos impérios e uma libertação, ainda que provisória, de poderes infames.

Revolução sem violência.

Entretanto no decurso de minha vida sempre fui contrário à violência, pois à máxima que essa gera mais violência deve-se acrescentar que a violência instiga o pior de cada ser humano, criando uma escalada de barbárie difícil conter.
Assistimos isso durante esse últimos 150 anos de história, e chegamos a um grau de violência no planeta nunca visto.
Produzimos mais bestas-feras a cada dia que passa.
Não estamos em processo de evolução da raça humana, regredimos, pois é mais fácil agir por nossas emoções brutas (e as piores são as mais atraentes) do que por nossa ração e porque não dizer por sentimentos mais elevados.

O que valorizo no anarquismo são muito de seus princípios que refletem a natureza humana, e suas consequências  sociais, políticas e econômicas.
Não os métodos usados no auge dos processos revolucionários do fim do século XIX.

Por isso posso dizer que sou anarquista em seus princípios teóricos mas não na transposição de sua prática revolucionária e violenta para a nossa contemporaneidade.

Quem abraça a violência não pode se dizer anarquista moderno, pois princípios de liberdade, respeito ao próximo, e cidadania preconizados pela teoria em questão, não valem como base para violência nos dias de hoje.
Se os métodos políticos não se atualizarem em seu contexto temporal jogam para o lixo seu ideário, pois práticas antes consideradas necessárias podem se tornar execráveis na atualidade.
A grande maioria dos partidos políticos mudaram seus métodos e linhas de ação no último século, não é cabível imaginar então que os princípios revolucionários de antanho sejam aplicáveis agora.


Desistir jamais

Será então que não há esperança para um pensamento anarquista nos dias de hoje?
Acredito que sim, será viável se houver uma mudança de paradigma.
Como provou Gandi com sua força pacífica ao libertar a Índia do julgo inglês, a não violência é mais forte pois mobiliza o melhor dos seres humanos envolvidos em conflitos, ao contrário do que ocorre com as revoluções.
 A saída anarquista, penso eu, passa pelo enfraquecimento dos principais poderes da atualidade, o capital e o estado.
Quanto menos desenvolvido seja o país esses são os dois maiores inimigos públicos.
Em parte do mundo desenvolvido a participação popular determinou estados que se voltam ao organizar a sociedade e prover a essa os serviços para seu conforto e desenvolvimento.
Aqui no nosso distante país tupiniquim ao ouvirmos sobre países onde os representantes políticos são modestos em suas mordomias, onde o estado é enxuto e eficaz, onde os serviços de educação e saúde são públicos, gratuitos e de alta qualidade, ficamos meio estarrecidos, incrédulos tão distante é essa realidade da nossa.
Nesses países o estado é do tamanho necessário e suficiente.
São modelos muito próximos dos princípios anarquistas, aplicados à modernidade.
Só se consegue o respeito aos cidadãos quando esses tem formação educacional, e consequentemente cidadã, que force seus representantes a executar políticas que lhes favoreçam (cidadãos) e não a eles mesmo (políticos) como acontece na maior parte dos países ditos democráticos.
É uma pequena parcela de países onde isso acontece, menor ainda se falarmos em dimensão populacional.
Há outra parcela de países de primeiro mundo onde essa relação é ainda, por assim dizer, civilizada, ou tolerável.
Mas a grande maioria dos países de terceiro mundo (termo antigo mais muito atual) mostra a necessidade de se promover essa reação pacífica contra estados (e claro sua classe política) e seus poderes econômicos. Brasil entre eles e talvez um dos principais.

De Macunaíma.com a Brasil.edu (prafraseando Gaspari)

Nossa oligarquia medieval não passou pelas várias revoluções que o mundo teve desde 1.500DC.
Somos aquela velha e rançosa sociedade de privilegiados contra uma grande massa de desvalidos. O que evoluiu um pouco foi a parcela do cordão dos puxa-sacos que podemos chamar de classe média, ou mérdia como queiram.
Acomodados cada um na sua casta, país explorado pelo primeiro mundo desde sua invasão (sim ninguém descobriu merda nenhuma os índios já estavam por aqui) por Cabral, talvez o safado número 1.
Ele mentiu que procurava o caminho das Índias, mas o que queria mesmo é a genitália de nossas índias tupiniquins, o que não deixa de ser um caminho, mas bem menos nobre cientificamente falando.
Fundo de quintal rico, não tivemos a oportunidade de cultivar um sentido de nação.
Somos todos apátridas, as vezes sinto o Brasil como terra de ninguém. Acho mesmo que somos o prostíbulo do mundo.
A canalha tomou conta do país, não há partido, instituição, nem cidadão que não tenha em seu cerne o virus da canalhice.
Aqui acima de Deus há Gerson e sua lei de levar vantagem em tudo.
Nenhuma mudança se fará se os cidadãos de brios não começarem a reagir.
Não me arrogo puro, tenho lá meu saco de erros a carregar, mas se não guardarmos nossos erros em um saco bem amarrado, e assumirmos a necessidade de mudar as coisas a herança que restará a nossos filhos e netos é a de uma nação em ruínas.
Para desautorizarmos o estado e o poder econômico por aqui não adiantará dúzias de Sérgio Moros, a canalhice nacional é endêmica, brota como erva daninha.
A dificuldade em combater os ratos finda quando a eles não resta mais alimento. Se mandam, caem fora.
Na política brasileira formada quase totalmente por ratos, a alternativa será tirar-lhes o alimento, a boca rica que representa ser um (não)representante eleito.
Claro que eles não vão votar algo contra eles mesmos, ou alguém imaginou numa assembleia  de ratos a votação no projeto de eliminação dos queijos? Ficam os queijos "ad eternum".

Então resta poucas saídas.

Talvez a melhor seja a desconstrução do estado brasileiro.

Quero que falte dinheiro para pagar os funcionários dos nossos falsos representantes, que falte dinheiro para pagar até seus altos salários.
Que seus automóveis apodreçam nas garagens, com pneus e tanques vazios.
Que falte luz no Congresso por falta de pagamento.
Que lhes falte água para dar a descarga dos excrementos que os excrescentes que lá habitam.
Quero presidente tendo que despachar à luz de velas.
Quero banquetes com feijão e arroz com uma "mistura", como cabe a todos nós cotidianamente.
Quero que a propina possível seja de centavos, não de milhões ou bilhões como as de hoje.
Quero cinco mil deputados e mil senadores sem ganhar um centavo do estado, que nos representem por idealismo, não pelo proveito próprio.

Como fazer?

Ai entra meu pensamento anarquista brazuca.
Para desautorizar o estado e o poder econômico só com um processo de desobediência civil e de economia alternativa (como a solidária) chegaremos lá.
A sonegação fiscal que graça o país já não é um tipo de desobediência civil?
Sim ela o é, mas lhe falta o correto sentido.
O sonegador se sente culpado.
Quando o fizer com um senso de revolta (não de levar vantagem ou assumir dificuldades) estará ajudando a desconstrução que proponho.
Outro bom exemplo é a economia solidária que cria um processo à margem do dinheiro, não passa pelos bancos, não arrecada impostos.
Um modelo econômico adotado em muitos lugares do mundo e com muito sucesso, penso.

 A possibilidade de fazer pelo prazer. Explico: num tempo onde o emprego é raro, os salários aviltantes, faz-se o que nossa natureza e aptidão nos permite.
Artesãos, oficinas de  todo o tipo, agriculturas comunitárias, serviços públicos, e tantos outros exemplos de atividades que podem ser realizadas fora do universo empregatício e do interesse de ganho imediato são formas econômicas alternativas.
Fazer para viver e viver para fazer, a vida se resume a isso.

Eu não tenho fórmula pronta, mas penso que só esse minguar do estado e seu cúmplice o capital poderão mudar o paradigma por aqui.
Fazer oba-oba, reclamar esporadicamente, ano sim ano não, não irá resolver nada.
Os poderosos sabem que acaba tudo dando em pizza.
Só uma mudança de postura, no dia a dia, e sempre e com convicção levará à mudança real.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Fui dormir, olhei o celular e vi que hoje ainda é ontem!
Céus, pensei, esperava tanto que hoje fosse amanhã, ou talvez o dia findouro de meu existir.
Mas não, hoje, por mais uma maldita hora, ainda será ontem.
Ando na contramão do existir.
Quando será meu porvir?

Brasília um puteiro a céu aberto?

O mito fundador da Novacap já a criara como possível Sodoma e Gomorra brasileira.
Longe de todos os centros urbanos do país, seus prostíbulos devem ter enchido a burra nos tempos da sua construção.
Toda aquela gente, longe de casa deve ter feito da prostituição em Brasília um bom negócio.

Um pacto de sigilo deve ter sido feito com a assinatura a sangue de cada participante da zona desde esses memoriais tempos.

Tal é o pacto que após Jeany Mary Corner uma das principais cafetinas de lá na atualidade, após muitos escândalos tempos atrás, volta ao anonimato pois imaginem ela, em uma delação premiada ao estilo Sérgio Moro, o estrago que faria no meio político.
É uma agenciadora inteligente, que exige de suas putas (acho mais simpático que prostituas que soa meio policialesco) uma apresentação, por assim dizer, normal. Sem muita maquiagem, roupas discretas, fala mansa, sem intromissão nos assuntos dos clientes, uma regulamentação que quase exige uma certificação ISO9000.
O preço é caro, e o sigilo mais ainda, mas a requintada clientela de políticos, executivos dos ministérios, lobistas, e porque não muitos daquela dezena (ou serão centenas?) de milhares de nomeados por provimento, paga sem pestanejar.

Puta bom negócio não é?
Ou seria: Puta?,bom negócio!

Mas uma Sodoma e Gomorra tem também classes mais privilegiadas que os já privilegiados citados.
Altas presidências, magistrados e ministros entre elas.
Ontem, o Blog do Noblat cita muitos deles e mostra a promiscuidade que rola entre essas classes de políticos classe "A", e mulheres mais interessantes, mas provavelmente não menos interesseiras.
O Renan caiu por conta de uma jornalista, cooptou uma empresa, sabe-se lá por que favorecimentos ela teve, para pagar a pensão da tal jornalista e o filho ou filha de ambos.
Não tenho nem um "a" a favor de Renan, mas não é interessante a tal moça ter saído nua na playboy tempos depois?
Alguém lembra do motivo que provocou o impedimento de Collor e sua tentativa de dar um  uma atacada na cunhada? A beleza da moça a levou a um casamento milionário em São Paulo depois da viuvez, depois das declarações do, ainda vivo à época, irmão do ex-presidente defenestrado.

Não é necessário alongar a lista, o que interessa é mostrar que há um outro tipo de mulher mais "interessantes" que as putas da cafetina para servirem o topo da classe de Brasília.
Não ponho a mão no fogo por ninguém, até porque o pacto de sigilo que há no puteiro a céu aberto que se transformou Brasília não irá incriminar ninguém, porem não isenta.

Mas vamos e venhamos, eu prefiro as putas às "mulheres interessantes" que frequentam as altas rodas com seu fetiche e charme, ao menos elas têm se mostrado mais discretas e confiáveis.
Pagos os serviços não restarão pensões nem filhos a sustentar, as cafetinas fazem esse controle de qualidade que a pulsão sexual não consegue fazer.

Viva a putas brasilienses!
Parabéns pelo seu profissionalismo.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Férias da Solidão

Passei praticamente dois meses fora de Curitiba.
A maior parte desse tempo ajudando a produzir uma obra de um amigo de longa data, dos tempos de faculdade e república.
"Sir." David Pennington como costuma chamá-lo a amiga Cláudia, ou "o Inglês" como o faz a Maria de Lourdes (codinome Miau).
Ajudei como podia, mas o mais interessante é que,de forma indireta, também fui ajudado, ou seja o que pode parecer uma ajuda minha a ele, também se deu dele a mim.
Daí o título da postagem.
Ele disse que eu o tirei da zona de conforto com a obra, acho que seu titubeio inicial acabou vencido pelo meu jeito "fazedor".
Ele fez um projeto bonito e muito interessante, fazendo a casa contornar árvores do cerrado que o terreno guardou por muitas décadas.

Trabalhando com prazer

Nas visitas para o trabalho conheci Brasília, e principalmente boa parte da UNB.
Ví muitas coisas bem feitas e bonitas, outras nem tão bem feitas outras nem tão bonitas, e algumas nem tão tudo.
Eu já tinha restrições contra certas obras do Niemayer.
Minha surpresa foi a Catedral, que vista como maquete é bonita mas construtivamente um "non sense".
Mas estar em seu interior paga qualquer necessidade de manutenção estrutural que ela tem e terá por bom tempo.
Tinha admiração pelo projeto do Plano Piloto do Lúcio Costa, mas ao conviver com seus traçados urbanos passei a achá-lo insuficiente.

Não me transferi da Poli para a FAU-USP a convite do então diretor Nestor Goulart dos Reis Filho, pois da arquitetura me interessava muito o Urbanismo, que no Brasil é profissão mais afeta aos bobos da corte pois a ingerência política é danosa à qualquer forma de planejamento.
Uma das raras exceções foi Jaime Lerner que fez bom trabalho aqui em Curitiba.

Pensando na chance que teve Lúcio Costa ao pegar um terreno descampado e nele implantar uma urbe, fico imaginando a) a responsabilidade e b) a competência e c) a humildade e d) visão de futuro.
Quanto à responsabilidade era imensa, e ele a assumiu como deve, com seus erros e acertos foi proativo e realizador.
Sobre a competência, demonstrou muita, porém há erros crassos devido ao provável personalismo que vigorou naquela época entre os autores da Novacap.
Às grandes vias chamadas de L e W faltam ligações, transversais mais rápidas, o candango é um cara que anda como cobra fazendo zig-zag nas L´s e W´s da vida.
Para uma cidade voltada ao automóvel é um erro grave.
Nas poucas transversais existentes, suas alças de acesso, que por lá são chamadas de tesourinhas, são um crime urbano.
Apertadas como corpete em uma cidade que não precisava dessa economia de espaço.
Isso quando não são além de curvas muito fechadas, com inclinação "para fora" da alça provocando acidentes. Viraram mais uma armadilha da indústria das multas que vigora aqui.
O Metrô, ao que me parece, saiu meio sem querer.
Não houve um projeto integrado, que atendesse toda a área metropolitana que acabou se criando.
Em plenos anos 60 onde todas as grandes capitais do mundo já contavam com grande rede de transporte público metropolitano, o Lúcio faz um arremedo para dizer que não fez?
É um erro dos maiores.
Donde resulta, em meu pensamento, uma grande falta de humildade, em promover um trabalho interdisciplinar e em equipe com participação mais horizontal, não hierárquica.
Essas minhas críticas desembocam em uma conclusão simples: o autor não tinha visão de futuro, o que é fatal para alguém que se pretende urbanista.
Mas que se danem Lúcio e Niemayer.

UNB

Quero brindar alguém mais especial e importante que foi Darcy Ribeiro.
A UNB, inspirada por ele e Anísio Teixeira seriam grande orgulho para os brasileiros.
Digo seriam pois a ingerência da politicagem brasileira, herança de tempos coloniais e outras mazelas que sofremos no Brasil... desde sempre.
A Universidade é linda e eu, que tenho muito orgulho da USP (que me acolheu), vejo-a tão ou mais bela que essa.
Mas como beleza não põe a mesa, sinto pena das suas insuficiências, que ouvi existir por lá.
Fico triste, e acho que Darcy também ficaria, quando uma cidadã de Paranoá (depois falo desta pequena urbe) não se sente nem no direito de ter conhecido a UNB.
Pô, a universidade é do povo, para educá-lo e servi-lo, mas o povo não se sente no direito nem de ir conhecê-la, adotá-la como sua, ansiar nela estudar?
É muito triste saber disso, é segregar irmão, nossos irmãos, morenos como escreveu o próprio Darcy.
Mas dane-se esse acúmulo de erros, somos todos uma acumulação de erros, expertos são os que aprendem com os eles, pois com os erros se encontram os acertos.
O fato é que desfrutei do convívio de espaços e pessoas tão díspares como os habitantes do assim chamado "Plano Piloto" como de uma periferia que por lá chamam (ao que parece) de cidade satélite.

Paranoá

Do lado oposto ao Plano Piloto em relação ao lago de mesmo nome, Paranoá é sem ter nascido, parece mais um aborto.
Localiza-se em um sítio muito bonito, que teria tudo para ser um paraíso, mas é um purgatório.
É um improviso, uma grande favela (em termos urbanos) que se oficializou... só que não.
Porque favela?
Porque foi uma urbe criada de forma espontânea, sem planejamento algum, e que penso eu, não deveria ser chamada de cidade-satélite.
São periferia como são muitas das cidades (oficializadas) de grandes metrópoles.
É um deus nos acuda aquilo.
Meu lado periferia gosta, mas como tenho muitos lados, a maioria deles sente pena.
Mas é um local que retrata exatamente a desorganização brasileira.
Tem bastante gente empreendedora, que focando o dinheiro até o acumulam.
Mas como testemunhou um proprietário de uma loja, que tem na sua frente da avenida Paranoá uma loja (do filho) e ao lado outra da sogra da filha e ao lado desta uma da filha com o marido. Enfim um clã de comerciantes. Me disse ele que o filho na casa dos 30 anos agora se ressente de não ter estudado.
O rapaz constata que só o dinheiro não faz o status de um cidadão do Plano (como se diz por lá).
Há que se ter uma dose de cultura.
Isso só os bancos escolares nos podem oferecer.
É então um exemplo típico do lugar onde as pessoas cultuam o ter e desprezam o ser, e alguma minoria descobre sua insatisfação.
Gente que esquece que quando partirmos dessa para melhor é o ser que fomos que podemos levar como valor.
Em Paranoá há uma invasão urbana monstruosa, o Itapoã.
Perto de cem mil habitantes moram lá.
Um comércio mais rudimentar (não menos movimentado) que o da Av. Paranoá atende essa população.
Região mais violenta e rude. Periferia da periferia.
Lá subsistem pequenos negócios que se sustentam vendendo seus produtos e serviços para os moradores dos vários condomínios da região.

Condomínios

Segundo meu amigo David, em toda Brasília há cerca de 586 condomínios, a grande maioria sem documentação.
Descalabro tipicamente brasileiro, macunaímico.
O fato e deu porque para a construção da capital foram desapropriadas grandes fazendas que, ao final da implantação inicial ficaram desocupadas.
Por também não terem recebido do estado o valor das desapropriações os proprietários acabam entrando na nossa justiça para reintegrar-se da posse destas.
Como década é o minuto da nossa justiça, com um título precário o dono da terra a loteia em condomínios, que são adquiridos sem documentação oficial alguma.
Ou seja, não se consegue regulamentar o urbanismo deles.
Não há zoneamento, é tudo uma zona mesmo.
Dependendo do loteador, o condomínio pode ser melhor ou pior, na maioria das vezes são bem razoáveis pois caso contrário não atenderiam a expectativa da classe que os consome.
A topografia, no geral, é bem generosa e permitiria algo muito mais civilizado que o que por lá ocorre.
É mesmo triste.
Reforça minha negativa em ir para a FAU e tentar ser um urbanista no Brasil, é mesmo um papel de bobo da corte.

Xô Solidão

Aqui em Curitiba passo dias sem falar com alguém, não tenho muitos interlocutores por aqui.
Isso já não aconteceu nesses quase dois meses fora de casa.
Convivi cotidianamente com meu amigo, sua namorada, sua família e amigos e com todos os fornecedores que são razoavelmente atenciosos (por necessidade do negócio claro).
Conheci gente interessante e penso que apesar de todos os senões, que já coloquei, é um local onde se pode desenvolver ainda muita coisa pois andam meio atrasados por lá.
Por lá se constrói bastante, mesmo na crise atual.
O funcionarismo público tem renda e estabilidade que lhes garante recursos para a casa própria.
Devido aos altos custos para se morar no Plano Piloto a opção de construir em condomínios é bem utilizada.
Talvez eu vá mais vezes até lá para conseguir realizar minhas habilidades de construtor onde se ensina e aprende todo dia.
Daí me forço a sair da tal zona de conforto e me sinta mais motivado para novas empreitadas, novas amizades e novos tempos.