No meu tempo escolar tinha-se que fazer um exame chamado "admissão" para entrar no então "ginásio" das escolas públicas.
Entre numa escola que fez toda a diferença na minha vida, o Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, um projeto experimental que não quero detalhar aqui.
Fato é que logo de cara encontrei uns amigos que se fizeram próximos. Andavámos sempre junto e todos nos respeitavam.
Éramos meio que uma quadrilha, um tanto inocente, de meninos de classe média.
Paulo Roberto Ferreira, Eduardo Bicudo Dreyfuss, José Teódolo Caldeira e eu.
60 anos me separam desse tempo, mas não da minha memória.
Eu era o mais fracote da quadrilha e era sempre ameaçado pelo José Carlos de Paula Machado.
Um dia sentado na arquibancada do pátio, o Zé Carlos me dá uma "gravata" por trás, o Teo que estava no pátio viu e veio me socorrer, dando por sua vez uma "gravata" no Zé Carlos que segundos depois me larga muito flácido.
O Téo deu-lhe um golpe atrás da orelha que o fez desmaiar.
Fiquei assustado, mas foi um exemplo de como a violência se manifesta.
Quando o Zé Carlos acorda o Téo lhe diz, da próxima vez você vai desacordar mais tempo.
Nunca mais o Zé Carlos me agrediu.
Lembrei do episódio lendo a história recente entre Ucrânia e Rússia.
Os dois países parece que alternaram o papel do Zé Carlos:
I) a Rússia provocando a Ucrânia quando estimula a ocupação da região a Leste com seus cidadãos, como se não houvesse espaço suficiente no território russo.
II) a Ucrânia, que ao se negar a cumprir os acordos de Minsk, fomenta a discórdia na região e envia tropas inclusive com membros nazistas e outras fobias das extremas direitas.
Alternam também o papel do Téo a Rússia e o Ocidente (UE e OTAN-EUA), ambos justificando a violência com um "já chega!".
E de novo temos um povo oprimido por uma guerra que, no fundo, não foi sua decisão direta.
Homens maus que se conhecem bem impõe uma luta a homens de boa vontade que não se conhecem.
A "situação está cínica" diria Adoniran, que era da paz!