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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O bem pensar

Ao dobrar a marca dos sessenta anos fico refletindo no que realmente fez diferença ao longo da vida.
O fator principal do existir é nosso relacionamento com as pessoas.
Eu cheguei à conclusão de que existem dois grandes grupos de pessoas: as que tem o que chamo de bem pensar e as outras.Eu não sei definir o que seria esse bem pensar, isso é coisa para psicologos, filósofos e outros humanistas.
Mas minha crença nesta divisão das pessoas não muda por isso.
O pouco que sei sobre nosso cérebro é de ele tem dois lados operacionais, e uma retaguarda que é uma espécie de força motora que faz esses dois lados, emoção e razão,trabalharem.
O que chamo de bem pensar não é simplesmente uma operacionalidade mental que mantenha o equilíbrio entre esses dois lados, apesar de muito frequentemente quem não tem o bem pensar acabe por desequilibrar sua conduta pendendo para um deles em certos momentos.
Sei que ao longo da vida somos marcados emocional e racionalmente pelas interações que temos com o mundo e principalmente com as pessoas. Criamos cicatrizes que além de marcar essa camada operacional atua principalmente nesta outra, a da retaguarda.
Como não estudei sobre a psique humana não a nomeio tecnicamente por ignorância. Prefiro chamar aqui simplesmente de alma.
É ela que motiva nossa mente a funcionar (quando essa é fisiologicamente sã).
Mas essa anállise profunda não é relevante para o que quero expor. Sou mais razo e objetivo.As pessoas do bem pensar tem uma conduta que, acredito eu, seja mais sadia não só para a sociedade, mas para ela mesma.
São mais honestas e assumidas em suas emoções.
Tem capacidade de relativisar as verdades mediante reflexões lógicas. Trocando em miúdos: aprende a aprender e não se envergonha de sua ignorância transitória ou conclusão equivocada, se permitindo se corrigir sem sofrimento, como processo natural.
Ou seja são mais honestas e assumidas em seu conhecimento.
Com isso se adaptam com mais facilidade, promovem mais avanços do que os que não tem o bem pensar.
Equilibram-se na turbulência da contemporaneidade e com naturalidade convivem com as mudanças.

Mas por que diabos fico pensando nestas coisas?
Tem a ver com uma certa desilusão que ando tendo com as pessoas em geral.

O mecanismo que constrói o bem pensar parece-me estar se deteriorando, seja lá qual for ele.
Dia a dia vejo menos pessoas do bem pensar.

Para cair em exemplos paupáveis: vemos dia a dia um número maior de religiões, seitas e/ou igrejas pouco confiáveis e que arrebanham hordas que se amoldam em condutas absurdas tanto sob o ponto de vista individual como coletivo. As pessoas que as adotam na maioria não contam com o bem pensar. Caem em um ufanismo irracional maluco.

Um outro exemplo, agora na política brasileira: convivi na década de 70 com muita gente do PC - Partido Comunista Brasileiro. Pessoas inteligentes, algumas do bem pensar outras não.
As do bem pensar tinham a inquietação que a autocrítica promove. Será que os modelos soviético ou chineses ou ainda cubanos seriam aqueles que iriam trazer as mudanças que precisavamos por aqui?
E mesmo que algumas tenham sido mandadas à Cuba ou à Rússia vieram depois de um tempo a abandonar esse modelo, como processo natural de aprendizado de aceitar os erros e tentar novos e nem sempre vitoriosos acertos. Mas acreditam no processo e com isso fizeram sua carreira. Hoje muitos estão num partido que até mudou de nome para mostrar sua nova postura.
Já os que não tinham o bem pensar (note que não consigo chamar de mal pensar, penso ser somente uma ausência do bem pensar o que é diferendo de algo mal) ficaram marcando posição em teses que já ruiram a muito tempo e ainda  estão militando em partidos radicalóides como o PCdoB (que nasce de uma dissidência do PCB) e outros que não necessitam ser mencionados.
Tendem ao radicalismo e principalmente ao totalitarismo, pois dentro destes princípios suas fraquesas em não disporem do bem pensar são escamoteadas.
Já o PT que tinha em seus quadros pessoas dos dois tipos, acabou por se tornar algo que boa parte de seus fundadores se arrepiaram ao ter que admitir.
Os que tinham o bem pensar acabaram por abandonar o barco, pois esse assumiu rumos muito duvidosos. Os demais tentam as fórmulas do radicalismo, da doutrinação e do totalitarismo como única saida, por pura incompetência de assumir erros, tentar corrigi-los e fazer aquilo a que se propunham quando na oposição.
Ficaram à merce das velhas forças da sociedade brasileira para galgar o poder e pouco avançaram.
Eu não gosto de estatísticas, mas quem quiser que procure os dados que mostram como é ínfima a verba das tais bolsas-esmolas em relação àquelas destinadas ao BNDES para financiar entre outras coisas empresas e empreendimentos estrangeiros.
Não, não estou com isso concordando com muitas coisas do governo do PSDB, que a título de uma militância de esquerda moderada em seus primórdios tornou-se neoliberal e se curvou às reformas exigidas pelo FMI, na base do custe o que custar.
As privatizações são exemplo cabal desta incompetência daquele governo. Cedemos muito do patrimônio público para grupos estrangeiros e ainda financiamos boa parte da compra com dinheiro do BNDES.
Para completar, o Lula se vangloria de ter pago o FMI, meu deus! Sempre pregaram que deveríamos no mínimo rediscutir nossa dívida com eles. Qual nada, pagou e ainda colocou muito dinheiro nosso naquela instituição que é ícone da opressão do capital sobre as nações e ainda se vangloriou. Tudo só jogo de cena, nossa dívida é monumental e só aumentou na gestão petista.
Quem não acredita nisso é porque não vê as notícias que veem da Grécia, Espanha, Potugal e Itália que estão sendo obrigados ao mesmo massacre do capital ao qual nos sujeitaram.

Eu acredito que FHC e Lula não tieveram o bem pensar em muitas de suas ações.
Teriam outras saídas?
Se radicalizassem como o governo argentino, poderiam até deixar de pagar a conta do FMI pois se os juros que nos cobravam fossem razoáveis a conta já poderia ser considerada paga.Mas mesmo sem radicalismo, a renegociação destes juros teriam nos levado também à quitação do débito quase sem pagamento.
A reforma do estado brasileiro que precisa ser feita foi abandonada pelos dois governantes. Sem ela o Brasil vai ficar cada vez mais inviável.
Faltou-lhes o bem pensar.
Falta às todas as instâncias do poder brasileiro, público e privado, o bem pensar.
A economia sofre e sofrerá ainda mais com a falta de uma educação a altura da realidade moderna.
E não pensem que treinar um monte de técnicos resolverá o problema, a educação é algo mais amplo que o aprender a fazer, é necessário aprender a ser cidadão e isso nossas famílias e escolas não andam fazendo.
Aqui quando alguém critica nosso erro agente esconde, joga para baixo do tapete como o caso dos ministros defenestrados por denúncias da imprensa, ou pior faz vistas grossas quando os caras são "mais amigos" do poder. A falta do bem pensar os torna cegos às críticas.

A mim parece que o bem pensar é algo que vem da profundeza da alma, algo que se tem ou não.
Será algo que pode ser construído ou é inexorável marca "de nascença".
Como acredito na evolução da espécie, e julgo a alma a essência sou forçado a acreditar que essa pode sim conquistar o bem pensar, parar de esconder seus desacertos tanto da emoção quanto da razão e tentar corrigí-los. Enfim ser mais honestos consigo mesmo.
Sei que é tarefa difícil pois trata-se de mudar vícios de nossa alma e fazer com que isso se traduza em ações no plano consciente, mas se não tentarmos ficaremos sempre a mercê desse ridículo que somos.
Fossemos assim, muito da baboseira que lemos e ouvimos hoje não seria produzida, talvez nem esse meu texto.
Ah! estão querendo saber como me julgo? se tenho esse tal bem pensar?
Não sei, e não saber já é um passo na direção dele, acho eu.

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