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sábado, 5 de setembro de 2015

Entreouvidos no palácio ontem...

Acordei em forma de mosca, destas como as que conheci aqui no Paraná, que ficam dando voltas em cima da mesa de centro da sala que nunca entendi o porque.
Mas Kafka à parte que já me travestiu de barata uma vez, volto à mosca que passara a ser.
Mais que ter me tornado mosca, fui insetotransportado para um lugar que não conhecia.
Mas tinha uma mesa de centro, e sabem como é o instinto, fiquei ali dando minhas voltas.
Nem tive tempo para umas primeiras voltinhas e entrou uma dona na sala.
Usava uma roupa estranha, um coturno (aquele dos milicos) e uma roupa chique, coisa de gente bem, de costureira de primeira.
Mas tava mesmo nervosa a mulher, não parava de andar de lá pra cá e cá pra lá.
Bufava como touro bravo.
Até pensei em me mandar dali, mas sabe como é o instinto, uma mesa de centro ali, linda, pra eu dar umas voltinhas a mais, ao menos completar as quinhentas para ver se dá barato uai!
Mas que, nada de sossego nas minhas voltinhas, veio uma voz do além, vinha do teto, deve ser um tipo de deus exclusivo para os humanos.
Dizia: "dona Dilma, tá aqui o presidente...", numa vozinha de macho com medo de mostrar o que tem dentro da braguilha.
Ela bateu num broche que tinha no peito e falou para o seu deus: "presidente pôrra nenhuma, agora a presidentA sou eu, manda ele entrar que hoje tô ca gota!".
No meio da fala dela entra apressado o tal cara, gozado...parecia com um boneco que vi na televisão, mas as orelhas dele eram maiores, não, não a do boneco, a do homem! Eita orelhudo que era.
Voltando à cena, o homem chegou bravo também, era um touro contra um bisão ali naquela sala.
Presidente sim dona poste, fui eu que a coloquei ai e exijo respeito, e fique sabendo que estou muito puto das calças! falou o orelhudo.
Mas precisamos nos acalmar coelhinha - ele disse.
Coelhinha é a puta que o pariu seu sem dedo - responde ela - e tem mais não me chame assim pois nunca sei se você está se referindo à imagem daquelas putanas da Playboy ou da dentuça daquele merda do Maurício de Souza.
Tá bom, tá bom, não te chamo mais de coelhinha, castorzinha que tal? - respondeu o tal sem-dedo.
Ocê tá querendo morrer hoje né ô bebum, tá arriscando o pescoço presidAntes! - completou a donzela de coturno.
Tá bom, então vou te chamar de cumpanheira tá? Não se ofenda desta vez pois eu sei que só chamo assim os idiotas que acreditam nos nossos discursos, mas é o jeito que me sobrou para te chamar tá?
Tá cumpanheiro - respondeu ela, numa declaração mutua de dois idiotas a conversar, pensei aqui comigo bem baixinho como só uma mosca pode pensar.
Vim aqui porque estou muito preocupado! - falou o com-mais-orelha-que-dedo.
Você se saiu um poste de farinha mulher, ferrou com tudo! - continuou.
Você que foi me dando as orientações- respondeu a dent... melhor não dizer senão ela me apaga com um daqueles trinta jornais que estavam na mesa dela.
E você foi acreditar em mim sua burra! Você sabe que eu não entendo nada de nada.
Dizem as más línguas que eu perdi o dedo de propósito só para me aposentar, mentira! eu não sabia mesmo é operar aquela máquina, fui o único na história do lugar a perder um dedo com aquela maquininha - ele desabafa com carar de burro-e-meio.
Mas você foi presidente! - disse a coturnada.
Ora - responde o modelo de boneco inflável - ser presidente num país de imbecis de um lado e de sacanas de outro é fácil, aprendi com o sindicalismo, enganar o povão é fácil, e ele me elegeu duas vezes e você outras duas seu poste farinhento.
Mas agora estão querendo nosso fígado, o povo está puto, tá nas ruas, e nosso exército stediliano não passa de meia dúzia, nem pagando eles aparecem mais, vê se pode.
E não é só o povão - falou ela - ontem o Trabuco mirou o trabuco dele no meu fiofó, disse que se eu mandasse o Levy embora, que seria melhor eu pedir o bilhete azul
E continua - Você sabe que não gosto de parecer melindrosa, mas tirei o coturno e tive que dizer "tudo bem meu bem".
Chamei o "filho" do homem para uma reunião com os cupinchas aqui do palácio e lhes avisei : "vocês calem a boca senão nós tamos fudidos antes do fim da semana. Elogiem o orelhudo quando ele chegar, e muito mais para a imprensa lá fora".
Eles reclamaram falando que sempre te elogiam, e eu expliquei que era o outro orelhudo, sabe cumé o novo orelhudo, é a confusão dessas orelhas...
Você quer me deixar irritado com esse negócio de orelha né mãe da Mônica? - reclamou já se exaltando o ex?-presidente.
Assim nós vamos acabar brigando!
E sabe -  falou o rouquinho - aquele embusteiro que queria vender seu negócio para dois concorrentes franceses e acabou se dando mal veio dizer para trancar eu e o Temer e o FHC numa sala para arranjar uma solução, imagina! Tá louco esse Diniz, minhas mentiras acabaram.
O Temer agora quer se vingar por ter ficado de escanteio, vai largar a gente e leva junto o partido que tanto nos custou pagar para ficar.
Tanta mutreta que fizemos agora indo pro ralo.
E o FHC tá rindo à toa de nós, eu tanto falei em herança maldita que agora a nossa vai ficar na história como a pior herança para o país, a realmente maldita.

E nem me incluiu na lista - falou ela indignada.
E precisava? adiantava você lá enchendo o saco com suas falas desconexas? Nisso ele tava certo - respondeu ele.
E eu, pequena mosca dando voltas na mesa ouvindo aquele monte de reclamação sem entender nada do que se passava ali.
Mas acho que não era só eu que não estava entendendo nada, acho que os tais duzentos milhões de imbecis, como disse o orelhudo sindicalista, também não estão entendendo nada.
Nem imaginam o que se fala aqui dentro dessas salas do palácio, parece tudo organizado, educado né?
Ufa! completei as quinhentas voltas na mesa e pluft! voltei a ser mais um idiota brasileiro.
Meio indignado com aquela conversa de meu tempo de mosca resolvi posta-la aqui.
Mas continuo intrigado para saber o que me fez virar mosca, dá de acontecer de novo né?
Acho que vou ler tudo do Kafka, talvez assim eu entenda, Nietzsche talvez....

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