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domingo, 8 de novembro de 2015

Vocacionais um Mito?

Estudei num Ginásio Vocacional em São Paulo, o Oswaldo Aranha, no Brooklin.

Tive que ser teimoso (com ainda 10 anos de idade) para poder entrar lá, pois o Pe. Carlos diretor do Meninópolis onde eu estudava marcou exame final do primário para a mesma data/hora.

Quebrou meu galho a inesquecível Prof. Berenice, cujo rosto continuo recordando agora 55 anos depois que me deixou fazer o exame final na sala da casa dela. Eu era bom nos estudos e acho que isso fez a diferença.

Mas voltando ao Vocacional, foi talvez a melhor experiência que ocorreu no Brasil para transformar o ensino público, gratuito em algo que fizesse a diferença para as gerações futuras.

Era um projeto com certo cunho anarquista.
Criou um "Serviço Vocacional" que funcionava absolutamente independente da estrutura da Secretaria da Educação, não se reportando à hierarquia burocrata típica do estado patrimonial brasileiro (daí meu pensar no princípio meio anarquista da proposta).
Foi talvez um sonho à época, agora depois de 50 anos, e vendo a realidade brasileira, acho que seria hoje um delírio, doce delírio.
Modelo
Muito se tratou do projeto criado e coordenado por Maria Nilde Mascelani com uma equipe pra lá de competente e dedicada como a Prof. Olga Bechara, Prof. Glorinha nossa querida orientadora, e tantos outros jovens professores daquele tempo em tornar nosso futuro melhor.
São muitos os nomes pois todos os professores foram absolutamente engajados no projeto, tinham tempo integral, cada um com seu espaço, seu tempo de planejamento, de coordenar as aulas (não se pretendiam os sabedores, mas orientadores do aprender), e mesmo de ter um tempo para nós quando precisássemos ou quiséssemos conforme nossos interesses.


Não vou falar muito sobre o projeto pois existe uma organização a GVive, que se pesquisarem na internet encontrarão muito material.
IndigNação

Não é minha intenção aqui divulgar o Vocacional.
Tenho recebido muitos links sobre ele de queridos amigos (que os tenho com orgulho a mais de 50 anos), falando do Vocacional.
Há muito material, alguns que dizem ter "aproveitado" algum ideário do sistema, mas nada disso para mim pode realmente ter eficácia.
Por exemplo, não me interessa quando alguém de uma instituição particular, diz que aproveitou isso ou aquilo do sistema.
Ora, um dos pilares do sistema era ensino público e gratuito.
A busca pela qualidade era o terceiro pilar que fundava o projeto.

Quero dizer que não existirá um modelo de ensino que tenha meu respeito se não for baseado nesses três pilares: Público, Gratuito e de Qualidade.
Porque
O marido de minha prima foi Diretor até há pouco tempo do Colégio Santo Américo, escola para a alta burguesia que tem um programa educacional muito próximo ao do Vocacional, só que não!
Não sendo público quem manda no ensino é o pagante, o poderoso pai cheio da grana que decide o que a escola deve fazer para seu filho senão ele muda.
É a regra do capitalismo, do burro capitalismo: se meu filho não quiser seguir uma carreira "vitoriosa" ou porque não a minha, não poderia ser "orientado" com táticas da "mais alta pedagogia" para conduzi-lo a isso.

A educação deve ser feita pela família, se esse tiver condição pois caso contrário o estado deve supri-la.
O ensino feito pelo estado que deveria representar a vontade da nação (que infelizmente não somos) com um projeto eficiente e duradouro.

Onde quero chegar?
O Vocacional só existiu porque havia vontade política no governo de Carvalho Pinto, e de seu secretário de educação Luciano Carvalho em criar um modelo para ser replicado para todo o sistema de ensino paulista, quiçá brasileiro.
Foi exitoso até a ditadura invadir as escolas, prender muitos dos professores, roubar ou destruir a documentação, e mesmo apavorar os adolescentes que estudavam nessas unidades.
Isso em 1969, quer dizer o sonho durou 8 anos se muito.

O que a ditadura destruiu, até agora meio século depois, não houve mais interesse político em reconstruir.
Não falo dos Vocacionais em si, falo de um ensino público, gratuito e de qualidade.
Isso não interessa aos políticos e poderosos brasileiros que, de Maquiavel a Goebbels leram todas as cartilhas da manipulação de um povo, que quanto mais ignorante melhor de ser conduzido aos interesses deles.

Há tempos conversando com a Prof. Olga Bechara talvez tenha sido rude ao dizer que os educadores não fazem a boa educação, somente a implementam quando o projeto político assim desejar.
Não desmerecendo os educadores, mas temos que entender que o seu lugar depende de diretrizes que os fazem frustrar vida afora pela pouca eficácia de seu trabalho, o que não é absolutamente culpa deles.
O que não falta no Brasil são bons educadores.

Ficar discutindo cotas é assumir nossa incapacidade de projetar um país justo.

Como disse Lenon: o sonho acabou!
... e com ele a esperança num Brasil melhor.

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