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sábado, 20 de setembro de 2008

Crise Financeira ou Econômica?

A economia americana, na contramão do restante do primeiro mundo, é baseada no crédito e não na poupança. É assim que a vejo deste meu pequeno universo terceiromundista.
Para que esse paradigma econômico funcione, é necessário que o crédito seja algo fácil de se adquirir.
Um sistema permissivo por excelência!
Como a realidade, apresentada ao mundo, pelo mercado americano é aquela anunciada pelas instituições financeiras todo mundo acreditou na palavra destas.
Até elas começarem a falir, e um negócio chamado "títulos podres" apodrecerem também os outros mercados financeiros que acreditaram neste estelionato pós-moderno.

Agora a sociedade americana está fazendo um plano "milagroso" para salvar as instituições financeiras da falência por terem aceitado crédito duvidoso (mentiroso na realidade).
Vão injetar de 30% a 40% do valor da dívida externa americana na "aquisição" destes créditos, que deverão ficar aguardando a boa vontade da economia americana e dos seus cidadãos-credores-falidos para resgatá-los.
O fato é que o estelionato pós-moderno já não está restrito ao universo dos cidadãos americanos, é conduta do próprio governo. Avalizado por ele.

Assistimos agora uma economia em ruínas, e não uma crise financeira.
Porque em ruínas?
Vejamos essa cronologia:

O início

Em 29 os EUA eram um país devastado pela grande depressão (imaginem eles olhando para a realidade atual).

Com a II Guerra (na casa dos outros claro) começa a ser o grande fornecedor de soluções bélicas, e vendo as oportunidades, apóia os aliados contra o Reich e torna-se o herói da guerra (aspecto que preconiza em milhares de filmes onde sempre o que se viu foi o exército americano agindo "gloriosamente" os outros não existiam). Ah! claro, com isso põe sua economia para funcionar novamente, exportando suas especialidades bélicas - tanto materiais como humanas).
Desenvolve-se nesta fase o grande potencial bélico que daí em diante o americano acredita ser uma mola para seu desenvolvimento.

Tempos de Glória
3. Com o fim da guerra e já "semi-enriquecido", víamos nele a super potência ocidental a se contrapor com os poderes marxistas representados pela URSS e o Maoismo entre outros de menor grandeza.
"Generosamente" ajuda na reconstrução da Europa, ainda com uma economia baseada no lastro em ouro (o Padrão de Ouro de Bretton Woods), tinha toda a credibilidade para tal.
Claro que as empresas americanas auferem altos lucros com a reconstrução da Europa e do Japão (70% do movimento financeiro relativo à reconstrução era voltado para o fornecimento de empresas americanas - "pequena" contrapartida para a ajuda), criando, paralelamente, um mercado potencial para seus futuros negócios.
A Guerra da Coréia afirma mais sua posição de novo herói.
Nesta fase desenvolvem o sentido de que "reconstruir" países devastados pela guerra é a melhor forma de colonizá-los.

Europa Recuperada
Com o restabelecimento das economias Européias, suas exportações para os EUA intensificam-se. Afinal o mercado americano era o maior do mundo e era lá que se encontravam as oportunidade de negócios.
Mas com o paradigma americano - que o tirou no fundo do poço na II Guerra - de fazer guerra e depois reconstruir os países devastados para auferir lucros estava estabelecido na mentalidade de seus líderes, resolve aplicá-lo contra o Vietnã. Afinal esse paiséco não iria representar grande ameaça e na sua "reconstrução" os EUA poderiam fortalecer suas posições no mercado asiático, contrapondo-se ao potencial hegemônico representado pela China maoísta.
Deu com os burros n'água. Aqueles pobres, fracos e tolos vietnamitas se opuseram à invasão americana como ninguém no mundo imaginara. Derrotaram o exército americano e, acredito, iniciaram a ruína do estado americano nesse momento. Inicialmente a moral americana, feita de vitórias, foi desbancada. O exercício da guerra lançou mão de instrumentos como a devastação ambiental, o uso incentivado de drogas, e outros mais hediondos ainda que provocou cicatrizes na nação que até agora estão tentando expurgar.
Guerra requer dinheiro, e o americano, então, imprime dólares para fazê-lo sem respeitar seu real valor. É aí que o dólar-papel passa a ser valorado independente de seu lastro em outro.
Vendo essa insegurança da moeda americana, a Europa começa a exigir a troca do dólar por ouro do Tesouro Americano, para poder se assegurar de seus créditos, cada vez mais crescentes com as exportações para os EUA.

A Reinvenção do Dólar ou Início do Estelionato Pós-moderno
Com a crise do petróleo de 1973, inventa-se o dólar baseado no comércio deste.
Estados Unidos e Inglaterra locupretam-se com um sistema que canalizava os petrodólares para suas instituições financeiras, emprestando o que não lhes pertencia a países que necessitavam de financiamento.
Vem então o maciço endividamento do terceiro mundo para adquirir o petróleo.
Uma década ou depois a quebradeira que se sucedeu começando com o México e todos os embates com o gestor desta agiotagem: o FMI, que os demais devedores tiveram que travar.

Cria-se neste momento o que Zigmunt Balman denomina "Economia líquida", onde o jogo do mercado não representa mais os reais valores dos títulos que são comercializados por ele, e sim o que eles representam como mera expectativa dos agentes econômicos.
Passada a década de 80, os EUA procuram novas guerras, para continuar rolando seu sistema imperial.
O Japão tem a primeira crise séria do capitalismo:
1. Desiste do consumo pelo consumo e começa a poupar desfreadamente,
2. Suas empresas não tendo mercado não tem como responder à poupança investida em suas ações,
3. Vê como saída a exportação e torna-se poderoso competidor no mercado mundial, ameaçando os setores econômicos da Europa e EUA.

A Coréia do Sul, segue o exemplo e se transforma em uma década em forte exportador.
A China com paradigma econômico inédito para a produção, onde o salário não visa atender as necessidades do trabalhador - "atendida" pelo estado - , mas sim uma mera poupança) invade o mundo com produtos que também revelam uma ética no mínimo inusitada, mas eficaz na penetração mercadológica.
Surge então a forte economia dos Tigres Asiáticos.
O Bush-pai inventa suas guerras, colocando fogo no já conturbado Oriente Médio. É a saída que o paradigma americano via como possível para um sucesso. Não perceberam que o modelo não mais se aplicaria na realidade dos anos noventa.
Endivida mais ainda o País, e aprofunda a crise.

Cresce o estelionato pós-moderno, o falso valor dos créditos concedidos ao americanos passa a ser alvo da poupança dos investidores do resto do primeiro mundo.
Afinal, prometiam bons lucros.

Mentirinha Transitória
O Governo Clinton, embarca em uma nova balela imperialista chamada neo-liberalismo, junto com o governo Britânico. Envolvem vários governos entre eles o Brasil, que no governo FHC vendar (que é uma conjunção de vender e dar) todo um conjunto de empresas estatais para grupos financeiros privados (muitos estrangeiros claro) e ainda financiava a tal compra com dinheiro público.
Acredito que o mesmo deva ter acontecido com outros países aderentes a esse "grande movimento de modernização da economia" na realidade nada mais que o "imperialismo pós-moderno" realizado diretamente pelos agentes econômicos e não mais pelo estado.
Se não foi uma ação selvagem, foi tão inescrupulosa e anti-ética quando as mais violetas intervenções, pois usurpou das nações "privatizantes" muito de sua poupança interna representada por essas estatais.
Oito anos menos violentos, mas não menos imorais.

A crise
O Bush-filho elege-se prometendo aos setores econômicos voltados à guerra e ao petróleo contrapartidas para sua campanha e para a economia dos EUA.
Vem o "feliz" 11 de setembro, pois justifica a guerra (aquela grande saída para a economia americana que ninguém acredita mais) e na sua caça ao Bin Laden invade o Iraque que está cheio de petróleo.
Aí ele quis ser mais inteligente juntou o paradigma guerra-reconstrução não com a construção de novos mercados (que no caso europeu e japones se voltaram contra eles), mas com a exploração do petróleo pelas empresas americanas, para suprir seu mercado.
Mas parece que não funcionou.
A economia, foi mostrando a sua fragilidade e a diferença representada pelo valor de uso do bem financiado e o valor "de mercado" (representado pelos papéis) mostrou-se uma mentira aberrante.
Não podendo pagar as prestações o cidadão devolve o bem, que levado a leilão só consegue resgatar uma pequena fração da dívida representada).
Isto é estelionato do próprio banco que emprestou (não consigo achar que banqueiro seria tolo a esse ponto), pois não apurou o valor de uso real do bem financiado.
Aí surge o tal "papel podre", mas que fora vendido ao tolo mercado financeiro mundial como bom investimento.
Ruiram todos, e perdem mesmo são os poupadores do primeiro mundo que investiram nessa mentira.
Na verdade, o que está ruindo é todo um sistema econômico-financeiro manipulado pelos espertos americanos nestes últimos 50 anos, que usaram das mais esdrúxulas (e desonestas) artimanhas para ganhar dinheiro de quem acreditasse (ou fosse vítima) deles. Foram apoiados por gananciosos investidores do mundo todo que agora nada tem a reclamar contra sua própria ganância.
Mas o estelionato pós-moderno está por se auto-corroer.
Se a única (e quase louca) alternativa para o estado americano é criar uma agência, financiada pelo estado, para "absorver" discretamente a mentira que este estelionato representa, parece que lhes está restando poucas alternativas, ou quase nenhuma na realidade.
Um país que deve 2/3 de seu PIB para o resto do mundo (e que não honrou 40% de seus pagamentos no último exercício);
Um país que deve internamente quase 100% de seu PIB;
Um país cuja dívida federal para com seus fornecedores é de US$ 7,5 trilhões;
Um país que vendeu essa mentira aos extrangeiros a ponto destes terem comprado mais da metade destes títulos (podres também não nos parece?);
merece respeito dos demais como sociedade ética e decente?
Penso que não.
Suas mazelas estão se tornando públicas.
Levou junto uma horda de mercenários, sem hipocrisia, que deve mesmo sucumbir junto com o estelionatário-chefe.
A ganância os corroeu.

A agencia americana que irá "adquirir" os papeis podres, irá também acabar com a tal Economia Líquida.
Senão todos os agentes econômicos continuarão a se portar tão tolos quando, no dia 19/09/2008, fizeram disparar as bolsas de valores do mundo todo com o prenúncio da solução dos 800 bi para criar a tal agencia.
É a negação da economia de mercado, é o desvelar da mão do estado totalitário agindo de acordo com os interesses hegemônicos e imperialistas, no que se chamaria de "livre mercado", que acaba de perder o "livre" para adjetiva-lo.
Podemos acordar e pensar nos rumos a tomar, cada um, cada país.

Fez bem o Lula quando disse com todas as letras que o Lehman Brothers Bank, que tanto deu palpite nas economias de outros países, desmerecendo-as na maioria das vezes, está se mostrando um mau caráter de primeira. Falido, por ter aceitado o golpe de estelionato pós-moderno dos EUA, fica claro que tudo o que diziam era balela, pura mentira para defender essa falcatrua que agora começa a aparecer.
Fez mal, entretanto o Lula, quando aceitou pagar - e adiantadamente - o restante de nossa "dívida" com o FMI. Porque o teria feito? Interesses particulares? A dívida deveria ser discutida como sempre apregoou. Ela já havia sido paga muitas vezes.

O que esperar
Muito mais irá surgir.
O primeiro bem de consumo do americano é o imóvel, deste já sabemos das mazelas do sistema de crédito.
Em seguida vem o(s) automóvel(eis) - o plural é natural daquele mercado. Será que não surgirá, com a crise financeira, com o arrocho econômico muitos deixarão de pagar seu financiamentos e outros "papeis podres" irão surgir no mercado.
A GM já fechou ou fechará várias fábricas, e com ela outras montadoras estão sinalizando o mesmo caminho.
Qual será o tamanho deste novo rombo, será muito menor que o imobiliário?
E assim vai, até a prestação do celular... num efeito dominó.

Alguém duvida?
É só esperar para ver.

PS. Não esqueçamos que temos mercado potencial nos países emergentes de mais de 3 bilhões de habitantes, o que é quase 10x o mercado americano. Será que isto não representará novo fôlego ao capitalismo? Por pior que possa parecer, ainda demorará para ser suplantado por um sistema mais decente. Há muita ganância a ser satisfeita.

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