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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Bakunin pero no mucho!

Dos Impérios ao Estado-Capital

Por vezes me intitulo um anarquista bakuniano.
Não que eu concorde com movimentos ocorridos a um século e meio atrás ou mais. São, é  claro, ultrapassados e cabiam como soluções no contexto que ocorreram.
As ações revolucionarias foram fator fundamental para a derrubada de muitos impérios e uma libertação, ainda que provisória, de poderes infames.

Revolução sem violência.

Entretanto no decurso de minha vida sempre fui contrário à violência, pois à máxima que essa gera mais violência deve-se acrescentar que a violência instiga o pior de cada ser humano, criando uma escalada de barbárie difícil conter.
Assistimos isso durante esse últimos 150 anos de história, e chegamos a um grau de violência no planeta nunca visto.
Produzimos mais bestas-feras a cada dia que passa.
Não estamos em processo de evolução da raça humana, regredimos, pois é mais fácil agir por nossas emoções brutas (e as piores são as mais atraentes) do que por nossa ração e porque não dizer por sentimentos mais elevados.

O que valorizo no anarquismo são muito de seus princípios que refletem a natureza humana, e suas consequências  sociais, políticas e econômicas.
Não os métodos usados no auge dos processos revolucionários do fim do século XIX.

Por isso posso dizer que sou anarquista em seus princípios teóricos mas não na transposição de sua prática revolucionária e violenta para a nossa contemporaneidade.

Quem abraça a violência não pode se dizer anarquista moderno, pois princípios de liberdade, respeito ao próximo, e cidadania preconizados pela teoria em questão, não valem como base para violência nos dias de hoje.
Se os métodos políticos não se atualizarem em seu contexto temporal jogam para o lixo seu ideário, pois práticas antes consideradas necessárias podem se tornar execráveis na atualidade.
A grande maioria dos partidos políticos mudaram seus métodos e linhas de ação no último século, não é cabível imaginar então que os princípios revolucionários de antanho sejam aplicáveis agora.


Desistir jamais

Será então que não há esperança para um pensamento anarquista nos dias de hoje?
Acredito que sim, será viável se houver uma mudança de paradigma.
Como provou Gandi com sua força pacífica ao libertar a Índia do julgo inglês, a não violência é mais forte pois mobiliza o melhor dos seres humanos envolvidos em conflitos, ao contrário do que ocorre com as revoluções.
 A saída anarquista, penso eu, passa pelo enfraquecimento dos principais poderes da atualidade, o capital e o estado.
Quanto menos desenvolvido seja o país esses são os dois maiores inimigos públicos.
Em parte do mundo desenvolvido a participação popular determinou estados que se voltam ao organizar a sociedade e prover a essa os serviços para seu conforto e desenvolvimento.
Aqui no nosso distante país tupiniquim ao ouvirmos sobre países onde os representantes políticos são modestos em suas mordomias, onde o estado é enxuto e eficaz, onde os serviços de educação e saúde são públicos, gratuitos e de alta qualidade, ficamos meio estarrecidos, incrédulos tão distante é essa realidade da nossa.
Nesses países o estado é do tamanho necessário e suficiente.
São modelos muito próximos dos princípios anarquistas, aplicados à modernidade.
Só se consegue o respeito aos cidadãos quando esses tem formação educacional, e consequentemente cidadã, que force seus representantes a executar políticas que lhes favoreçam (cidadãos) e não a eles mesmo (políticos) como acontece na maior parte dos países ditos democráticos.
É uma pequena parcela de países onde isso acontece, menor ainda se falarmos em dimensão populacional.
Há outra parcela de países de primeiro mundo onde essa relação é ainda, por assim dizer, civilizada, ou tolerável.
Mas a grande maioria dos países de terceiro mundo (termo antigo mais muito atual) mostra a necessidade de se promover essa reação pacífica contra estados (e claro sua classe política) e seus poderes econômicos. Brasil entre eles e talvez um dos principais.

De Macunaíma.com a Brasil.edu (prafraseando Gaspari)

Nossa oligarquia medieval não passou pelas várias revoluções que o mundo teve desde 1.500DC.
Somos aquela velha e rançosa sociedade de privilegiados contra uma grande massa de desvalidos. O que evoluiu um pouco foi a parcela do cordão dos puxa-sacos que podemos chamar de classe média, ou mérdia como queiram.
Acomodados cada um na sua casta, país explorado pelo primeiro mundo desde sua invasão (sim ninguém descobriu merda nenhuma os índios já estavam por aqui) por Cabral, talvez o safado número 1.
Ele mentiu que procurava o caminho das Índias, mas o que queria mesmo é a genitália de nossas índias tupiniquins, o que não deixa de ser um caminho, mas bem menos nobre cientificamente falando.
Fundo de quintal rico, não tivemos a oportunidade de cultivar um sentido de nação.
Somos todos apátridas, as vezes sinto o Brasil como terra de ninguém. Acho mesmo que somos o prostíbulo do mundo.
A canalha tomou conta do país, não há partido, instituição, nem cidadão que não tenha em seu cerne o virus da canalhice.
Aqui acima de Deus há Gerson e sua lei de levar vantagem em tudo.
Nenhuma mudança se fará se os cidadãos de brios não começarem a reagir.
Não me arrogo puro, tenho lá meu saco de erros a carregar, mas se não guardarmos nossos erros em um saco bem amarrado, e assumirmos a necessidade de mudar as coisas a herança que restará a nossos filhos e netos é a de uma nação em ruínas.
Para desautorizarmos o estado e o poder econômico por aqui não adiantará dúzias de Sérgio Moros, a canalhice nacional é endêmica, brota como erva daninha.
A dificuldade em combater os ratos finda quando a eles não resta mais alimento. Se mandam, caem fora.
Na política brasileira formada quase totalmente por ratos, a alternativa será tirar-lhes o alimento, a boca rica que representa ser um (não)representante eleito.
Claro que eles não vão votar algo contra eles mesmos, ou alguém imaginou numa assembleia  de ratos a votação no projeto de eliminação dos queijos? Ficam os queijos "ad eternum".

Então resta poucas saídas.

Talvez a melhor seja a desconstrução do estado brasileiro.

Quero que falte dinheiro para pagar os funcionários dos nossos falsos representantes, que falte dinheiro para pagar até seus altos salários.
Que seus automóveis apodreçam nas garagens, com pneus e tanques vazios.
Que falte luz no Congresso por falta de pagamento.
Que lhes falte água para dar a descarga dos excrementos que os excrescentes que lá habitam.
Quero presidente tendo que despachar à luz de velas.
Quero banquetes com feijão e arroz com uma "mistura", como cabe a todos nós cotidianamente.
Quero que a propina possível seja de centavos, não de milhões ou bilhões como as de hoje.
Quero cinco mil deputados e mil senadores sem ganhar um centavo do estado, que nos representem por idealismo, não pelo proveito próprio.

Como fazer?

Ai entra meu pensamento anarquista brazuca.
Para desautorizar o estado e o poder econômico só com um processo de desobediência civil e de economia alternativa (como a solidária) chegaremos lá.
A sonegação fiscal que graça o país já não é um tipo de desobediência civil?
Sim ela o é, mas lhe falta o correto sentido.
O sonegador se sente culpado.
Quando o fizer com um senso de revolta (não de levar vantagem ou assumir dificuldades) estará ajudando a desconstrução que proponho.
Outro bom exemplo é a economia solidária que cria um processo à margem do dinheiro, não passa pelos bancos, não arrecada impostos.
Um modelo econômico adotado em muitos lugares do mundo e com muito sucesso, penso.

 A possibilidade de fazer pelo prazer. Explico: num tempo onde o emprego é raro, os salários aviltantes, faz-se o que nossa natureza e aptidão nos permite.
Artesãos, oficinas de  todo o tipo, agriculturas comunitárias, serviços públicos, e tantos outros exemplos de atividades que podem ser realizadas fora do universo empregatício e do interesse de ganho imediato são formas econômicas alternativas.
Fazer para viver e viver para fazer, a vida se resume a isso.

Eu não tenho fórmula pronta, mas penso que só esse minguar do estado e seu cúmplice o capital poderão mudar o paradigma por aqui.
Fazer oba-oba, reclamar esporadicamente, ano sim ano não, não irá resolver nada.
Os poderosos sabem que acaba tudo dando em pizza.
Só uma mudança de postura, no dia a dia, e sempre e com convicção levará à mudança real.

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