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Oi José, me cumprimentou João.
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Oi - devolvi.
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Já sabe da última? – perguntei.
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Não –respondeu.
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O mundo acaba amanhã! - disse eu, sem muita ênfase.
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É mesmo? – falou João também sem muito espanto,
ou incrédulo não sei – mas é só para você ou para todos?
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Para todos – respondi.
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Xi! – tenho que me apressar – ele retruca.
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Eu já estou apressado – coloquei...
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Ele: mas que pressa é essa que te deixa prosear
comigo?
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A pressa de quem não quer deixar nada pra trás,
muito menos a companhia de um amigo. Sabe, o que não fiz até agora por ti, ou
contigo, devemos fazer agora... ou nunca mais.
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É verdade – João falou pensativo.
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Mas é tanta coisa... continuou.
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Faz mal não, pouco é mais que nada, pouco que
seja será muito, melhor: será tudo!
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Sabe – falou João – tenho umas pendengas que
quero resolver contigo sim. Melhor não deixar pra depois. Vamos sentar naquele
bar, pedir uma geladinha e conversar. Tirar a limpo essas besteiras!
Sentamos, pedimos a geladinha e
um quebra-gelo, e disse-lhe: diga aí, quais as pendengas?
João tomou o quebra-gelo, olhou
para o mar, que ficava ali em frente... sentiu a brisa a acariciar-lhe.
Respirou fundo e disse: pendenga nenhuma vale esse momento, me dá um abraço e
vamos tomar essa geladinha em silêncio, em homenagem ao fim do mundo.
Brindemos ao fim do mundo!
Vamos molhar os pés no mar... –
completou inebriado.
Lá, descalços, entretidos e
calados junto à imensidão do mar João me diz: e se não acabar?
O que? disse-lhe.
E se o mundo não acabar amanhã?
Que faremos? – me perguntou o amigo.
Agente se encontra, toma o
quebra-gelo e a geladinha, tira os sapatos e vêm de novo molhar os pés nessa
água morninha – eu disse – e se perdoa novamente.
Dito e feito. O Mundo não acabou
no dia seguinte.
Encontrei João com Cleide, sua
mulher. Levei a Isaura – amiga minha – para o quebra-gelo, a geladinha e o pé
no mar.
Depois de alguns meses éramos
milhares, molhando os pés no meio de uma tarde de expediente normal, depois de
um quebra-gelo e de uma (ou mais) geladinhas. Todos acreditando que amanhã o
mundo iria acabar, e o que hoje não for feito, amanhã não o será.
Todos perdoaram a si mesmos e aos
outros.
Eram felizes e amavam-se numa
grande corrente...
Foram dias de paz...
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