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sábado, 5 de julho de 2014

Ginásios X Arenas - Isso é futebol?

Entendi agora pq a FIFA passou a chamar estádios de arenas!
Tá certo, desde sempre é nelas que colocamos homens combatendo animais ou vice-versa sei lá.

Parei de acompanhar futebol faz muito tempo.
Para quem é velho como eu e assistiu jogos desde a Copa de 58 (ainda ouvida nos rádios, e mostrada em pequenos trechos em documentários nos cinemas), e seguiu acompanhando futebol até a de 70 a desilusão com o esporte tem seus motivos.

O primeiro é a violência não penalizável que se institucionalizou no que passaram a chamar de "futebol força" contra aquele tido como antigo que apelidaram muito acertadamente de "futebol arte".
Futebol de resultados, feito para ganhar partidas, e depois apropriado por grandes interesses financeiros.

Para garantir resultados positivos os europeus resolveram converter o nosso maravilhoso futebol latino americano o tal "arte" num jogo truculento, de trancos, camas-de-gato  e agarra - agarra que o "futebol força" criou.
Tornou jogadores leves e ágeis em truculentas massas de músculos. Roubaram-lhes a agilidade, a arte e os encheram de dinheiro, músculos e violência.

E a turba enlouquecida, querendo mais é ver violência, achando tudo lindo, pagando cada vez mais caro para ir aos estádios, ops arenas, para ver a luta, ops jogos!

E como o mote passou a ser violência, essa também se instalou nas arquibancadas mundo afora, e que tem sido difícil de combater, ainda mais quando ela extrapola as arenas e vai para as ruas mesmo.


E os árbitros das partidas passaram a chamar de "jogo de corpo" um embate típico de animais irracionais travestidos de uniformes de times ou nações. Ao que me lembro jogo de corpo era um tipo de totózinho que se dava ombro a ombro quando se estava correndo paralelamente com o adversário, não o encontro entre chifres que vemos hoje nos estádios.

Como a humanidade continua tosca como nos tempos da Roma antiga, nas arenas colocamos toda a violência que queremos ver

Os gananciosos, vendo aí um filão para se ganhar dinheiro, se apropriaram do negócio e sabem, cada vez mais, que o que vende é a violência.
Jornalistas falaram muitas vezes mais de uma mordida do que do gol maravilhoso que assisti no jogo da Holanda, um grande e ousado mergulho para fazer de cabeça.
Falam mais da vértebra do garoto-propaganda NeymarJr do que do fato dele não ter feito lá muita diferença quando o time se organizou como uma equipe de jogo e  não num ajuntamento de ditos craques que não conseguem um bom drible, digno de se aplaudir.

Eu sei que também havia certa violência no futebol arte, mas era punida quando o árbitro a via, mas muitas vezes passava despercebida. Pelé que o diga, era perito nisso.
Mas ao invés de evoluir e usar as possibilidades do tira teima, que hoje está on line nos telões dos estádios, para dirimir dúvidas de apoiar a arbitragem, o que se faz é aceitar a violência e fim.
As reclamações contra a má arbitragem e os xingamentos à suas progenitoras é parte do estímulo, da violência.

Lendo matéria do Cony, na Folha de São Paulo, constatei que o que eu realmente quero é um novo futebol, o que ele bem descreve no artigo.
Se um esbarrar no outro é falta, não pode!
Lide com a bola com destreza para se livrar da defesa, sem tocar nem ser tocado por ninguém.
Um jogo que provavelmente seria cheio de gols que é, em última instância, o que se deveria querer ver.

Todos os tais craques de hoje começam craques mesmo,  criados muito mais no futebol arte das peladas de bairro que acabam conseguindo entrar nos clubes. Lembro bem de cada um deles que quando humilde ainda jogavam com gosto um futebol bonito de se ver, e que logo que foram cooptados pelo dinheiro europeu perderam a graça viram os gladiadores das arenas atuais. Enumerar aqui daria uma lista enorme.

Que violência gera violência todos sabem, pois creio que arte gera mais arte, mais sensibilidade aos espectadores, mais destreza aos jogadores e boa educação a todos os que participam.

A vaia à presidente é direito do povo, e mesmo que ela merecesse o que aconteceu na estreia da Copa, a boa educação rege que se vaiasse sem xingamentos ouvidos por bilhões de espectadores. Ainda bem que na França entenderam que o povo queria que ela fosse enforcada pelo pescoço.

Um outro motivo que me fez afastar do futebol foi a espetacularização que a mídia e o dinheiro implementou.
Para quem ouviu locutores de rádio, pessoas inteligentíssimas, descrevendo o que estava acontecendo no campo para quem não pudesse lá estar, e depois tem que se deparar com uma gralha como o Galvão gritando e esperneando, consultando um papagaio que ele chama de Arnaldo, é de matar.
Não fosse o comentário de um ou outro jogador convidado para o alpiste da gralha, e que às vezes ela consulta (e muitas delas interrompe) o ideal seria desligar o som, ficar só com a imagem.

Quem já foi a um estádio e assistiu um bom jogo sabe como é prazeroso.
Toda a tarde ficava animada, nosso time ganhando ou perdendo, sempre voltávamos mais felizes para casa.
Discutíamos os lances, como se faz hoje, mas os comentários eram sobre um drible do Garrincha, ou do Canhoteiro que morava perto da minha casa, num sobrado simples como o nosso. Não sobre mordidas, trancos, pernas colunas e costelas quebradas.

Esse é o espetáculo verdadeiro, vê-lo na tv não tem a mesma graça, mas se é o que pode ser feito, ok vamos de tv mesmo, mas daí até chegarmos ao ponto da tv mandar no espetáculo não dá pra concordar. Os jogos durante a semana ficaram condicionados ao fim da maldita novela das 8 que só começa 9:30 e com isso o jogo começa sei lá a que horas. Quem fica para assistir acorda no dia seguinte meio mal humorado, mesmo que seu time tenha ganhado.
Mas como o dinheiro manda, e a tv doutrina a turba ignóbil chegamos ao estado atual.

E há ainda um terceiro motivo para me afastar do futebol, a corrupção endêmica do meio.
Se a corrupção, para mim, deveria ser considerada crime hediondo, com pena perpétua, não posso entender essa sujeirada que se instalou nos bastidores do futebol. Alguém pode me explicar que fim tomou o caso da venda do Neymar para sei lá que time tenha ido? Li que o presidente do tal clube foi afastado, parece que o problema foi uma pequena diferença de milhões que não passaram pelo fisco, de lá e de cá. Mas pelo espetáculo vale tudo, abafar os casos é o que a própria imprensa acaba fazendo.O Felipão também tá lá enroscado com impostos não pagos.
Virou um ambiente de abutres, raposas e espertalhões, pobre Gerson que se achava, hoje seria considerado um ingênuo.
Não assusta a promiscuidade entre o futebol e a política, os atores em ambos os casos são farinha do mesmo saco. Raras são as exceções!

Dizer não ao futebol, para mim, é então tentar me manifestar também contra a corrupção.
Sei que a minha não audiência não faz diferença, mas se essa conduta se espalhar poderá fazer.

Talvez voltando nossos olhos para as peladas dos "campãozinhos (*)" da periferia fiquemos mais satisfeitos com o jogo jogado.

Mas Copa é Copa, assisto os jogos do Brasil e serve para me atualizar de como anda o tal esporte bretão que perdeu a elegância inglesa e se tornou mais um embate de gladiadores romanos.
Espero que os feridos todos se recuperem, afinal o show deve continuar, infelizmente.


(*) Campãozinho é uma doce lembrança da minha infância. Explico: por vezes minha mãe ficava brava porque eu atrasava para voltar para casa e ela dizia que até tinha ido ao campo onde jogávamos futebol (eu era muito ruim na brincadeira, beque de 20 kg quase caia com o impacto da bola). Daí eu perguntava que campo, e ela apontava um pequeno que tinha no meio de um quarteirão. e eu então falava que não era lá que eu estava que eu estava no "campãozinho", um maior com um pouco de mato que servia de grama, que ficava onde hoje tem a Av. Berrini. Campão não era, porque ainda era pequeno, daí ficou o apelido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tá mesmo um horror! já tiraram a graça de tanta coisa e agora, sem dúvida do futebol também.