Assunto:
Código Nacional de Trânsito e
sua Gestão em São Paulo.
Quem escreve: Ricardo Aleixo –
Fiz Engenharia Civil na Escola Politécnica da USP e lá estudei Engenharia de
Tráfego.
Ouvi
uma entrevista no seu programa, com um especialista em trânsito do Rio de
Janeiro, na qual combatia a lei em tramitação no congresso que propões
alterações no CNT.
Concordo
com a opinião do entrevistado.
O
CNT tem que ser “duro” na defesa da
segurança do trânsito.
Mas
essa segurança deve começar pela boa gestão do tráfego pelos municípios.
E
isso está longe de acontecer aqui na capital.
Nossa
política de trânsito está baseada nos seguintes princípios:
1.
Quanto mais
multa melhor. Exemplos:
1.1.
Na entrada do
Túnel Sebastião Camargo (de quem vem descendo do clube Paineiras) existe uma
restrição de velocidade de 50
Km /h, logo em seguida um multômetro (desses eletrônicos) e logo em seguida a velocidade
volta a 60 Km
/h. Não é o único caso que conheço com essa característica.
1.2.
Na Marginal, a
velocidade em alguns pontos cai para 70 km /h. Quem inventou 70 Km/h ao invés dos 80 Km / h deve ser um gênio
(de 4 patas). Experimente andar nessas 2 velocidades em um carro razoavelmente
moderno (fabricado depois de 1980) e você verá que não há diferença prática na
segurança. Deve-se definir padrões claros de limites de velocidade. Sou do tipo
40, 60 e 80 etc. Daqui a pouco vai haver 32,46 Km / h em um trecho
de 98m da marginal. E é claro um multômetro justamente aí.
1.3.
No cruzamento
da Pompéia com a Francisco Matarazzo, devido a uma confusão que os gênios do
trânsito fizeram, é normal o tráfego parar extemporaneamente, sem aviso, e
deixar um ou outro motorista no papel de palhaço na zona de cruzamento. Aí vem
um guarda e multa-o. O guarda deveria estar ali para avisar os motoristas, inibir
sua entrada no cruzamento, e não multar. Multar não melhora o trânsito, melhora
a arrecadação.
2.
Inibir o
trânsito de veículos em ruas onde o interesse particular prevalece sobre o
coletivo. Sabe quais... ruas bloqueadas gratuitamente para não serem usadas.
Veja a lógica: o tráfego se comporta como um fluido que deve traspassar um
meio. Se obrigarmos que o tráfego somente se dê em vias principais, iremos
diminuir em muito o fluxo do fluido, causando: a) baixa velocidade e b)
congestionamento. Não lhe parecem palavras familiares? Trocando em miúdos, se
entupirmos as artérias vamos provocar um enfarto. São Paulo está enfartando!!!
3.
Colocar no
planejamento e na administração, orientação e policiamento do tráfego pessoas
inabilitadas para essa finalidade.
3.1.
No planejamento
temos técnicos na engenharia de tráfego que parecem migrados diretamente dos
campos de extermínio em massa da 2a. Guerra! Criam disparates do
tipo conversão à esquerda em vias de alto movimento e velocidade. Naquela pista
de mais alta velocidade tem uma conversão à esquerda e um pobre coitado parado.
Sujeitando-se a tomar uma por traz de perder a vida. É perigoso ou só eu
acho isso? E não venham com a desculpa que não tem como fazer diferente...
desculpas do tipo “sabe o traçado urbano
não permite”... Bobagens!!! A gestão da coisa pública não pode aceitar essa
atitude. a vida humana deve ser a primeira prioridade na política de gestão
pública. Hoje não é!!!
Pior ainda é o fato de se ter que dividir o tempo de
operação dos semáforos entre 3 fases ao invés de 2. Será que disseram para eles
que 1/3 é menor que 1/2?
3.2.
Sobre a
gerência do tráfego nas vias deve-se considerar o quem é quem. O quadro atual é
mais ou menos o seguinte:
3.2.1.
Todos podem
multar: quando eu era pequeno para multar tinha que ter poder de polícia, agora
tem mocinha azul, homenzinhos marrons, flash’s multicoloridos, quadradinhos
pretinhos no asfalto, espiões da CIA, Interpol, FBI, e sei lá quem mais a nos
multar.
3.2.2.
Ninguém
precisa orientar. Pergunto quem já viu, nas ruas, alguém ligado ao trânsito
dando uma orientação de bom senso? Daquelas “eu poderia multar, mas se orientar
é melhor para o trânsito”. Eu nunca vi!
4.
Abandonar o
transporte público ao Deus dará.
Sabe, transporte de massa não é tão complicado. É
outra cadeira do curso de engenharia que fiz.
Tem que haver uma hierarquia nas soluções. Temos que usar o
exemplo das arvores:
4.1.
Grandes
troncos, para altos volumes == Metro,
4.2.
Pequenos
troncos, para médios volumes == Pre-Metrô, Corredores de Ônibus Elétricos,
4.3.
Galhos, para
captação da população levando-os (de forma integrada) até algum tronco = Ônibus
para maiores volumes, e lotações para os menores.
Mas aqui não tem ordem.
Para o metrô e corredores nunca temos verba.
Os ônibus e peruas vão do centro até a periferia. Geram um
tráfego desnecessário.
O transporte público é a) de má qualidade, b) muito caro e
c) escasso.
É mais barato pegar uma Brasília amarela de rodas gaúchas,
juntar mais 3 colegas, e gastar uns R$ 5,00 para rodar uns 30 Km ao invés de gastar R$
10,00 (se fossem pegar um único ônibus para ir e outro para voltar).
E não venham com a história da gasolina estar barata. Não
tá, é a mais cara do mundo.
O que não temos é política de transporte público. Compare
São Paulo com Curitiba.
São
somente alguns exemplos.
Sabe,
nasci aqui a quase 50 anos. Gostava de São Paulo. Não gosto mais.
Estou
indo para o interior.
O
mais gozado é que para onde vou estou batendo com um monte de paulistanos.
Já
que as reformas agrárias, eleitoral, fiscal e outras tão necessárias não vem,
estamos criando uma reforma diferente. Estamos reformando uma casa no
interior e abandonando Sampa.
Esta
cidade só nos mostra o lado ruim das pessoas. Para onde vou, vemos o lado bom.
Aqui todo mundo quer entrar na frente – egoísmo. Lá damos passagem um para o
outro - Civilidade.
Adeus!!!
R.Aleixo
PS:
bom “day after” a todos...
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