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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Um texto de 1992!

Sobre a Chacina na Casa de Detenção, os Cabeças Raspadas e Meu Saco Cheio


Toda a imprensa está defendendo os pobres presidiários do Pavilhão 9 da Detenção.
A Santa Igreja, os Santos Políticos, e outros Santos Segmentos Sociais também.
O mais engraçado é que o meu coração também se comoveu, achou um absurdo, ele estava Santo no momento.
Daí ouvi uma história, de que os coitados dos 111 não eram 111, mas passavam , e muito dos 200.
Mas ouvi também, e da mesma boca, que a polícia teve que intervir porque os próprios detentos tinham marcado uma leve execução para a sub-raça dos presidiários portadores de Aids. Os executados é que seriam uns 111.
Para os presos não matarem mais 111, aumentando assim suas penas que devem provavelmente passar de 111 anos cada um,  a polícia resolveu intervir. Matou quem sabe 222, 333 ou ate 999.
Não vem ao caso. Matou!.
Não matou 111, matou também para cada um mais 1, ou 2 ou 10 ou sabe-se lá quantas pessoas cada um já havia matado, pois com eles foram-se se as histórias como  a do casal de aposentados queimados vivos,  com os olhos furados para não terem que ver a própria chacina (Santos Criminosos).
Todo mundo ficou comovido.
Mudemos a cena.
Jovens, classe média, "imitando" o pior exemplo (sic do sistema) da história conhecida do mundo contemporâneo, HITLER.
Declarando-se racistas, querendo expulsar nordestinos, judeus,  bichas e tantos mais.
Fazem terror num show no Rio de Janeiro. Talvez sentindo saudade dos bons tempos do Rio Centro.
Serão filhos de quem?
Não, da mãe nós sabemos a profissão. Queremos saber dos pais.

A visão nacionalista que fomentou o nazismo, bem que numa versão de terceiro mundo pode ser uma visão bairrista.
Vamos mudar a cena de novo.
O trouxa aqui, sentado no sofá, vendo o noticiário.
Sentindo pena dos presidiários, e raiva dos neo-nazistas.
Certinho como o sistema quer que eu faça.
Daí, pensei. Sim, de vez em quanto a classe média pensa!
Vamos inverter a situação! E se eu tiver pena dos neo-nazistas e raiva dos presidiários. O que poderia me despertar tais sentimentos.
Viajei!
O empresariado é cúmplice do sistema pois além de pagar propina (a CPI ouviu declarações diretas destes), pode sonegar os impostos.
A classe média paga. E não chia!!
O pobre chia e não paga. Parecido com o empresário que também chia.
O governo, por sua vez, "alivia os cofres" como ficou provado no episódio do impeachman do LL (dizem que falar no nome delle dá azar).
Eu vou pagar 900 mil de escola para o meu filho.
O meu patrão (que por coincidência é um empresário) me desconta INSS, IR, e além disto um Plano de Saúde.
O governo está falando que só vou me aposentar depois dos 65 anos.
Do jeito que vai, não me aposento. Não vivo até lá.
Paguei de IR mais do que minha mulher gastou na despesa de mes de casa.
Pô! Não tá justo.
O que o empresário paga de imposto ele mesmo fatura de volta, ganhando contrato com propinas quer dizer, ainda se beneficia.
O  que eu pago não vejo de volta. Minha cidade anda um lixo, não tenho disponível assistência médica gratuita, pois o atendimento público está sempre lotado pelos pobres (coitados). Ensino público como aquele que eu recebi na década de 60, qual o que. Até aqui, no meu pobre bairrozinho de classe média, não há vagas. Se não cuidar com meu carro arrebento ele no primeiro buraco que a prefeitura preparou especialmente para mim (e para o fabricante de autopeças).

Resumindo! O que eu pago o pobre usufrui.
Estou procurando uma prova em contrário.

Aí vem todo mundo com demagogia, coitado do pobre!
Será que a igreja sem pobre não acabaria, sem a menor possibilidade de mostrar sua infinita bondade com o dinheiro que o bestão de classe média lhe deu?
Será que os políticos (que sustentam o estado atual) também não acabariam considerando que são os pobres que engolem seu bla-bla-bla e votam neles?

Aí começo a entender os cabeças raspadas!
Se não houvessem pobres, seus pais (trouxões como eu) teriam mais dinheiro para proporcionar-lhes uma vida melhor.
Mais culta, divertida, alegre.
Não teria a igreja demagógica, e sim uma que tratasse exclusivamente da fé.
Não teríamos políticos promovidos por uma classe que, bem ou mal não os sustentam.

Aí descobri que a Chacina da Detenção era também uma atitude dos cabeças raspadas (como conseguiram não descobri ainda). Eles estão muito mais próximos de nós do que imaginamos.
Poderão ser nossos filhos. E nós aceitaremos sua conduta, talvez como fizeram os alemães no pré-gerra, assumindo por omissão esta filosifia.
Pronto, me descobri nazista!
Meu pai tremeu no túmulo (acompanhou de lá meus pensamentos).

Pior, não sou só eu!
A classe média é nazista.
Se for feita uma enquete para ver quem censura a atitude dos policiais que "limparam" (sic junto amigos) a Detenção veremos que somente uma minoria desaprova.
É tudo nazista.
A classe dominante, capitalistas empresários, políticos, igreja. imprensa, etc, nos estão moldando assim. Não pelo que se diz, mas pelo resultado do que se faz. Pela sociedade que nos oferecem. Não adianta campanha publicitária contra. O que dói na pele não é superado com publicidade.

Isto é outubro de 1992.

Paro.
Volto da minha viagem,
Mesclo minha lógica com meus pensamentos.
Volto a ter pena dos detentos mortos, com raiva dos neo-nazistas.
Estou tentando fazer o que o sistema me pede.

Mas no fundo, tô com uma raiva danada do cara que fez o telhado deste  quarto onde estou escrevendo. Tá com goteira. Tenho que secar tudo.
Quem é ele?
Deixa prá lá, senão começa tudo de novo.

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